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10 de out. de 2016
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ModaLisboa: Desfile Nuno Gama a partir a loiça contra preconceitos

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Agência LUSA
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10 de out. de 2016

O segundo dia da 47.ª edição da ModaLisboa arrancou sábado, em Belém, com um desfile do criador Nuno Gama, no qual os manequins, que transportavam pratos com adjetivos discriminatórios, partiram a loiça numa reação contra os preconceitos.

Iniciado dentro do Museu da Marinha, o desfile foi depois levado para o exterior, para a Praça do Império, onde terminou com os manequins alinhados, ao som da Banda da Armada Portuguesa.

Nuno Gama - Primavera-Verão 2017 - Lisboa - Fotografias Rui Vasco


Seguiu-se o momento em que os modelos partiram os pratos que tinham inscritas palavras como “burgesso”, “monhés”, “caixa d’óculos”, “badalhoco”, “beto”, “refugiado”, “bicha”, “tripeiro” ou “saloio” e depois se abraçaram, libertando papéis com as cores da bandeira portuguesa (vermelho, amarelo e verde).

“O exercício foi esse: partir o prato, deixarmos de parte aquilo que não nos une e, junto da nossa melhor parte, construirmos um abraço e tornamo-nos mais fortes”, disse à agência Lusa o criador Nuno Gama.

Recusando tratar-se uma crítica social, o estilista afirmou que foi, antes, “uma tentativa de pôr as pessoas a pensar se vale a pena a divisão”.

“Será que não somos muito mais giros, muito mais interessantes e muito mais fortes se cada um falar a sua forma regional - à Porto, à norte, alentejano, algarvio, açoriano?”, questionou o criador.

Apostando em coordenados masculinos de tons neutros de calcário, amêndoa, ‘moka’ e azeitona, Nuno Gama retratou “o português contemporâneo, moderno, e um português do mundo”, que emerge da “Luzboa” (nome da coleção) da capital portuguesa.

O objetivo foi transmitir a mensagem “de que não estamos sozinhos”, realçou o criador, vincando: “Somos pequeninos, mas somos muito grandes”.

Nuno Gama - Primavera-Verão 2017 - Lisboa - Fotografias Rui Vasco


Nuno Gama confessou, ainda, que a coleção é “um momento de introspeção muito íntimo”.

“É um exercício de ouvir as pessoas: o que querem, o que não querem, porque é que sofrem, tudo na vida”, adiantou, referindo que optou por transportar para o vestuário as várias “simbioses sociais”.

Outra das inovações foi o facto de a coleção ter sido mostrada ao público na Praça do Império, já que, normalmente, os desfiles da ModaLisboa apenas são acessíveis por convite.

“É importante compartilharmos isto com as pessoas”, vincou Nuno Gama.

Agradado com a ideia estava o jovem Hugo Teixeira. “Nem toda a gente tem acesso aos desfiles e, assim, toda a gente acaba por poder ir”, disse à agência Lusa.

Além “do desfile e da roupa”, Hugo indicou, também, ter gostado da “crítica social bastante explícita”.

Opiniões semelhantes demonstraram as amigas Rita Ferreira e Marina Gonçalves.

Enquanto Rita considerou que o desfile “foi interessante, foi diferente”, Marina assinalou que “se inseriu no tema ‘Together’”, que é mote desta edição da ModaLisboa.

Por seu lado, Maria de Lurdes Nunes e Manuela Seara foram, respetivamente, ver o neto e o filho desfilar.

Nuno Gama - Primavera-Verão 2017 - Lisboa - Fotografias Rui Vasco


Visivelmente orgulhosas, ambas reconheceram que “é muito interessante dar a oportunidade às pessoas, que não estão tão ligadas ao mundo da moda, poderem assistir”, apesar de a família ter convites.

Questionado sobre se na ModaLisboa fazem falta iniciativas semelhantes, que atraiam curiosos e turistas, o criador Nuno Gama respondeu: “Faz falta é que cada um de nós encontre formas corretas de chegar ao público”.

Além dos desfiles, a programação inclui também exposições e o Wonder Room, uma ‘pop-up store’ (loja temporária), de entrada livre.

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