
Helena OSORIO
15 de mar. de 2023
ModaLisboa: as esculturas vestíveis em metal de Olga Noronha

Helena OSORIO
15 de mar. de 2023
As esculturas vestíveis em metal lacado a preto de Olga Noronha, apresentadas na 60.ª edição da ModaLisboa - Lisboa Fashion Week, são fabulosas não apenas pelo encantamento que transportam por si sós, mas pela destreza e génio com que foram inventadas e materializadas com vários motivos recortados num material que parece difícil e incorrigível ao trato.

Neste sentido, Olga Noronha é uma visionária. Os cortes e bordados que dá ao metal como se fosse um tecido maleável vão muito além do até então imaginado.
Esculpe cinco looks extremamente rendilhados como se fossem de papel. E, apenas no pisar da passerelle se apercebe a fragilidade destas folhas de metal manuseadas e dobradas como Origami, e também cortadas como Kirigami, ambas artes orientais milenares. Olga chama-lhes A|Void, o vazio da revelação. "Através das sombras, o espaço é re-significado na plenitude dos quatro elementos – terra, água, fogo e ar", explica.

Olga Noronha é, realmente, uma designer de exceção que marca pela diferença do seu olhar singular, mas também pela forma tão simples de contar histórias complexas como esta de reinventar materiais bélicos por forma a vestirem-se. Quase como o ato de riscar o papel e, quando tudo começa a ganhar forma, eis que surge um novo mundo paralelo a este nosso mais superficial que Olga enche de figuras etéreas, extraterrenas, espaciais, viajantes de outra estratosfera.
Como essas mulheres de ferro que dominam um espaço interdito, hoje com um impacto semelhante ao que teve o romance Laranja Mecânica (A Clockwork Orange) de Anthony Burgess a partir do ano 1962 em que foi publicado. Na verdade, ainda nos impressiona o filme com o mesmo nome que retrata esse futuro distópico para o qual caminhamos muito provavelmente.

"Um jogo de cores, luzes e projeções representando os elementos, ao qual ela acrescenta o quinto: o éter, o vazio", diz também a brevíssima nota de programa que deixa em aberto todas as possibilidades para que, por outros, as ditas esculturas sejam repensadas. Mesmo que, dificilmente, se tornem vestíveis para a maioria.
É afinal o mínimo exigido a uma investigadora doutorada que trabalha o corpo como um suporte (ou céu acima de todas as cabeças) – o éter menos como composto científico e mais como personificação desse céu superior na mitologia grega, o deserto ou o vazio, o infinito com as próprias criaturas. A ver vamos.
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