
Helena OSORIO
13 de mar. de 2023
ModaLisboa: Carlos Gil e Nuno Gama no último dia

Helena OSORIO
13 de mar. de 2023
As mulheres de Carlos Gil e os homens de Nuno Gama foram revelados em dois desfiles seguidos, no último dia da 60.ª edição da ModaLisboa - Lisboa Fashion Week, no domingo (12 de março).

Carlos Gil ficou na Alma, como é o nome da sua coleção para o outono-inverno 2023/24, simultaneamente comemorativa dos 25 anos da marca homónima. A alma como "a essência imaterial, associada à identidade, personalidade, consciência e existência espiritual" do próprio designer de moda moçambicano que não esqueceu a cor e a flora do berço.
Seguidamente (e nem por acaso), Nuno Gama parte para uma diferente viagem de português aventureiro, festejando os 30 anos do registo da sua marca, com um brinde de champanhe no final, e juntando-se na passerelle com os seus manequins inclusivos vestidos com a nova coleção Cruise. Como a embarcarem numa nau Catrineta, "na Gare Marítima de Alcântara, através dos painéis de Almada Negreiros, num desafio de mais uma viagem", diz a nota do programa.

No fundo, quase que se podiam considerar duas coleções Cruise, se bem que a de Carlos Gil vai mais longe nas tipologias, com um sem fim de looks sempre sensuais e inusitados que servem todas as ocasiões.
"É uma imersão nos 25 anos do percurso da marca, inspirada nos sentimentos de uma história recheada de momentos transformadores", diz ainda a nota, sem esquecer a magia que Gil tem de enaltecer a sua mulher como reflexo do tempo e da evolução natural.

A mulher de Carlos Gil é assim, e sobretudo, determinada e elegante, com uma imagem forte e positiva, marcada por linhas estruturadas num corpo que é livre. Como também foi genuíno e inclusivo o seu elenco de caras tão diferentes e belas quanto as suas múltiplas etnias. Numa Lisboa que é também cosmopolita e acolhedora dos mais diferentes povos, culturas e crenças. Desde a sua fundação.
Verdadeiramente uma coleção de eleição que não cabe nestas páginas pela escolha de materiais com o gosto e glamour dos anos 50 e 60 muito presentes, combinação de cores e texturas, envolvimento de transparências e de opacos, num jogo de esconde e revela como de alturas e cinturas, cortes inesperados e tudo o mais que um bom couturier nos habitua.

Por sua vez, Nuno Gama trabalha sempre perto da sua portugalidade, evocando os antigos feitos heroicos dos portugueses e quase fazendo esquecer as façanhas dos que agora se sentam no trono. O alto do seu porto de mar e montanha do habitat natural em Azeitão fá-lo ver mais adiante, como acontece nesta coleção para a primavera-verão 2023/24 cheia de cor, possíveis encontros e novas possibilidades vestíveis para homens. Onde nem os próprios cães ficaram de fora. Se bem que ainda não os esteja a vestir... Fica a sugestão.
São também "códigos de elegância vintage, na valorização e contraposição de formas / volumes, dos códigos de vestuário masculino", que entram em cena, como se diz noutra nota oficial.

"Dos azuis na volta ao mar, avistámos os tons areia das praias de Portugal para, ao crepúsculo, a alma encontrar e, em lindas cores, se transformar", poetiza o que observamos afinal na passerelle pisada por manequins de todas as idades, de todas as alturas, de todas as formas, de todas as cores. Porque assim é e deve continuar a ser o mundo pintado a arco-íris.

Todas as brincadeiras são possíveis, e diferentes combinações sempre viris. Desde o padrão liso de um tom que joga com outra tonalidade de igual cor, entre o seu mais escuro e o claro, em pernas ou peito com bolsos opostos de um lado e do outro de cada peça.
Riscas verticais e horizontais, tons fluorescentes e sóbrios, calções combinados com meias pelo joelho e longas calças, camisas de manga curta e comprida, camisolas, tops cavados e T-shirts, blusões, coletes e casacos quase a arrastar no chão, chapéus de várias formas e feitios, botas, sneakers, sapatos clássicos pintados de azul — esse azul que é a estrela duma coleção quase interminável como a viagem sugerida através dela.

E esses chapéus de palha ou de feltro com fitas de seda e penas até? Um deslumbre! Recordam viagens transatlânticas nos grandes paquetes da frota portuguesa, todos desaparecidos e desvalorizados. Talvez por se associarem à colonização.
Porém, Nuno Gama tem esta sabedoria de recolher o melhor da História e fazer o novo de outras viagens sempre bem acompanhado pelos seus cães como melhores amigos e pelo seu elenco que ilustra nas belas feições o bem da mistura entre povos e civilidades.

Nada falta na bagagem. É realmente uma coleção de embarque num clássico grand tour ou mesmo numa viagem pelo mundo em 80 dias e mais. Com a assinatura de um Nuno Gama veterano que está sedento de partir sem se afastar das suas margens.
"Demos vento às telas naturais, orgânicas, recicladas ou reinterpretadas em novos técnicos e em novas estruturas, Cosidos à Portuguesa entre si, em saborosos bicolores ou contrastantes, acalmando assim vento e mar", conclui assim (e sempre brincando), sobre esta sua nova coleção tão descontraída quanto eclética, com tudo o que um bom viajante sequer. É caso para dizer: "À la notre!"

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