Estela Ataíde
28 de fev. de 2019
Modtissimo: sustentabilidade continua a dar cartas
Estela Ataíde
28 de fev. de 2019
A primeira edição do ano do Modtissimo, o salão dedicado à fileira têxtil, invadiu, nos dias e 28 de fevereiro, o Aeroporto Franscisco Sá Carneiro. No momento em que o certame profissional fechava as suas portas, o balanço era claramente positivo, apesar dos receios derivados da atual conjuntura internacional, que apontava para um abrandamento nos negócios.
“Houve mais expositores, houve mais compradores, nomeadamente estrangeiros, portanto estamos felizes”, avançou à FashionNetwork.com Manuel Serrão, diretor-geral da Associação Seletiva Moda, que organiza o evento. Num ano em que foram mais de 6 mil os profissionais que se deslocaram ao salão para descobrir as mais de 400 coleções em exposição, merece especial destaque a evolução no número de compradores vindos de outras geografias, registando-se “claramente um aumento de 20% no número de compradores estrangeiros” em relação à edição de fevereiro de 2018, informou o responsável.
E, se na edição anterior a sustentabilidade foi o tema oficial, a tendência para uma indústria têxtil mais ecológica parece ter chegado para ficar entre as empresas portuguesas, a julgar pelas propostas dos expositores. Até porque, “o mercado vem cada vez mais à procura dessas soluções”, nota Filipa Silva Pereira, relações públicas da LMA, reconhecida pela suas constantes inovações no domínio das malhas e tecidos técnicos. Uma inovação cada vez mais associada à sustentabilidade e que passa, por exemplo, por um tecido sustentável feito com uma base de poliamida reciclada e poliéster reciclado.
Também o denim está a acompanhar a “onda verde” que tem invadido o têxtil e se refletiu claramente no Modtissimo. Especializada na produção de denim e tecidos PPT (preparados para tingir), a Troficolor assume também a aposta na sustentabilidade. “Na nossa coleção de 150 referências, cerca de 30% já é reciclado ou orgânico”, destaca Carlos Azevedo, gestor comercial, acrescentando que a procura por este tipo de soluções tem sido crescente, havendo marcas, sobretudo de países escandinavos e do centro da Europa, que “só fazem artigos com produtos orgânicos e/ou com reciclados”.
Esta predominância de novidades no domínio da sustentabilidade não é surpresa para Catarina Rodrigues, brand development manager da produtora de malhas Tintex: “Portugal parece-me ser dos países que maior preocupação tem vindo a demonstrar nesta área, o que explica por que tantas marcas procuram cada vez mais Portugal tanto para comprar malha, como para confeção.” Garantindo que a sustentabilidade é o foco da Tintex, Catarina Rodrigues realça que tudo o processo de produção da empresa é pensado “da forma mais sustentável possível”, das fibras que adquire aos produtos de acabamento, passando pelos produtos químicos utilizados.
E não só no domínio dos tecidos se sente esta tendência, com as empresas de confeção a seguirem igualmente este caminho, como acontece com a marca de vestuário infantil YAY, que apresentou no salão a sua primeira coleção totalmente orgânica, que começa a ser vendida em agosto, ou na Tapa Costuras, que participou no evento focada no private label e cuja maioria dos produtos é feita “em fibras naturais ou fibras técnicas recicladas, lã reciclada, viscose”, explica o gerente, Gonçalo Serra. O responsável deixa porém o alerta: há ainda barreiras a limitar os negócios neste segmento, nomeadamente os mínimos impostos pelos fornecedores de matéria-prima, sobretudo no que diz respeito aos reciclados, um problema exacerbado pelo facto do mercado da sustentabilidade estar assente “em pequenas marcas, marcas que estão a começar e não são marcas de massas”, pelo que não precisam de grandes quantidades de materiais.
De braços abertos para outros setores
Em entrevista à FashionNetwork.com alguns dias antes do arranque do Modtissimo, Manuel Serrão notava que a feira tem vindo a incluir na sua lista de expositores empresas de outros segmentos da moda, como o calçado. Exemplo disso é a Labuta, que participou pela terceira vez no certame, que Pedro Olaio, responsável de design, classifica como uma excelente montra para a marca, que se destaca entre os expositores de vestuário e tecidos. Mais uma vez, a sustentabilidade tem um papel importante no futuro da empresa, que poderá passar por “uma linha vegan”, indica Olaio. Para já, os profissionais que visitaram a feira puderam conhecer a 4904, a nova marca da empresa, que utiliza os lenços de Viana do Castelo no forro do calçado e solas em borracha de pneu reciclado.
Também a Easy Walk Experience, uma sub-marca da Arcopédico criada há dois anos, volta a apostar no Modtissimo para se divulgar. É que, embora se trate de uma marca de calçado, a Easy Walk Experience “nasceu para a moda desportiva”, uma vez que é em grande parte feita de tecido. “Nós vestimos o pé”. explica Marcelino Pinto, responsável da marca em Portugal. O que faz da feira a montra ideal para uma marca que quer chegar a “concept stores, lojas de lifestyle, lojas de desporto e sapatarias”.
Com a primeira edição do ano a chegar ao fim com uma nota positiva, o Modtissimo estará de volta em setembro, desta vez na sua casa-mãe, a Alfândega do Porto, com uma edição oficialmente focada na sustentabilidade, que dará a conhecer a evolução desta tendência na fileira do têxtil e do vestuário.
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