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Estela Ataíde
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13 de fev. de 2019
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Momad revê os seus conceitos e foca-se na sustentabilidade

Traduzido por
Estela Ataíde
Publicado em
13 de fev. de 2019

Simplesmente Momad. Já sem os apelidos Metrópolis e Shoes, a feira madrilena celebrou, de 8 a 10 de fevereiro, na Ifema, a primeira edição unificada sob a sua imagem renovada. Um novo formato, que contou com a participação de cerca de 800 marcas, e que pretende propor uma indústria mais atrativa, apostando fortemente na diversificação, no design e nas propostas sustentáveis. 


A Ifema recebeu as feiras Momad, Intergift, Bisutex e Madridjoya no passado fim de semana - Momad


"À medida que vamos trabalhando neste evento, gostaria de incorporar mais setores como a moda masculina ou a moda praia, bem como mais designers de passarela", declarou no sábado (9), em conferência de imprensa, Charo Izquierdo, diretora das feiras de moda da Ifema desde abril do ano passado. Desde a sua chegada ao cargo, o seu principal objetivo tem sido "unir indústria e design", criando parcerias com a Mercedes Benz Fashion Week Madrid, da qual também é diretora. Assim, nesta edição, destaca a participação de Hannibal Laguna e Modesto Lomba, que anunciou o salto para o prêt-à-porter da marca Devota&Lomba.
 
Apesar do lançamento do evento paralelo dedicado ao calçado, ShoesRoom by Momad, que terá lugar de 1 a 3 de março e que já está esgotado, com 80 empresas confirmadas, a afluência de visitantes não pareceu ser afetada ao longo do fim de semana. Com 35% de marcas novas, os pavilhões da Ifema apresentaram uma atividade positiva, igualmente impulsionada pela coincidência de datas com os salões também realizados no recinto de exposições: Intergift e Bisutex. Assim, as previsões anunciam-se otimistas, com os olhos postos nos 15.120 visitantes da edição de setembro. Da sua parte, Charo Izquierdo mostrou a sua vontade de continuar a rever as bases do evento, incluindo o trabalho com o consumidor final. "Ainda não sabemos como, mas deveríamos ser capazes de chegar tanto aos profissionais como aos particulares para dar a conhecer as marcas", concluiu.

Moda sustentável como oportunidade de negócio


Projeto de reflorestação impulsado pela One Oak na Galiza - One Oak


"É preciso ser cego para acreditar que podemos continuar assim por muito tempo. Nós vemos o trabalho em moda sustentável como uma oportunidade de diferenciação. Recuso-me a acreditar que por serem produtos sustentáveis têm de ser mais caros, os nossos estão em linha com os preços de mercado", comentou Guillermo Iniguez, cofundador da empresa One Oak, especializada em relógios, bonés e mochilas criados a partir de de madeira. Atualmente focada num plano de reflorestação na zona de As Neves (Pontevedra, Espanha), fortemente afetada por incêndios em outubro de 2017, a marca propõe que os compradores plantem uma árvore em seu nome após cada aquisição. O desafio? Chegar às 10 mil. "Conseguimos criar uma grande conexão entre a marca, os nossos projetos e os clientes", afirmou o empresário com orgulho.

Marina López, presidente da Associação de Moda Sustentável de Espanha (AMSE), considera indispensáveis as ações orientadas para a melhoria do impacto ambiental do produto desde o início do design para garantir a sua reciclagem. Algo em que lhe dá razão Paula Gorini, da Associação de Moda Sustentável de Múrcia (MSM): "O eco-design é fundamental. É necessário prestar atenção aos materiais e ter em mente o resultado das roupas desde a primeira etapa de criação", afirmou. E ambas estão de acordo quando se trata de apontar para certos gigantes do setor. "As grandes empresas instalarem um contentor de recolha de roupa nas suas lojas não é economia circular. Têm que mudar de modelo para irem mais além", notou Gorini; enquanto Lopez deu como exemplo uma t-shirt branca da Pull and Bear com a mensagem ‘My generation will save the planet’. "É importante que não nos deixemos enganar por algumas empresas que usam mensagens em jeito de 'greenwashing'", alertou.
 
E quem são os responsáveis?


T-shirt com a mensagem 'My generation will save the planet', citada por Marina López na Momad - Pull & Bear


Há dois anos, a BBC divulgou o chocante caso dos cães que ficaram azuis em Bombaim devido ao contacto com resíduos químicos. Um facto no qual Paula Gorini se apoiou para questionar o modelo da indústria: "Estamos numa sociedade caprichosa que não se questiona nem de onde vem nem para onde vai", criticou. “É preciso travar o consumo de usar e deitar fora porque estamos a chegar a um ponto sem retorno", afirmou a representante da AMSE. "É preciso reduzir o consumo, comprar em lojas e a marcas que respeitem o meio ambiente, cuidar da roupa, arranjá-la ou trocá-la... Temos que assumir a responsabilidade pelo destino das nossas roupas quando decidirmos não voltar a usá-las", acrescentou sobre o papel do consumidor.
 
E as empresas? "Devem reduzir a produção, fazer menos e de maior qualidade; trabalhar o eco-design e formar os seus designers; evitar utilizar produtos químicos e metais pesados no tingimento e produção; encarregar-se da gestão dos seus resíduos e realizar campanhas de sensibilização... Campanhas de verdade", afirma Marina López, desenhando um roteiro claro. Sem perder o otimismo, assinalou que a União Europeia obrigará todos os municípios a reciclar os têxteis separadamente a partir de 2025; enquanto a representante de Murcia reivindicou "a introdução de um canhão de poluição e lixo, tal como se aplica noutras indústrias".

Tecnologia, uma potencial solução?


A Jeanología é uma empresa especializada no desenvolvimento de tecnologias sustentáveis na indústria dos acabamentos - Jeanología


"Todos temos a nossa quota de responsabilidade. As marcas têm que fornecer mais informações; o consumidor tem que a pedir e solicitar as normas que há noutros setores e a indústria tem de ser capaz de oferecer produtos sustentáveis", reconheceu Fernando Cardona, criativo da empresa valenciana Jeanología. Fundada em 1994 e especializada no desenvolvimento de tecnologias sustentáveis para a indústria de acabamento do denim, a empresa defende investimentos neste segmento. "Como já foi feito noutras indústrias, o setor têxtil precisa de aplicar a inovação e a investigação. Trabalhar com tecnologia reduz processos e a sua complexidade, melhora a reprodutibilidade e a escalabilidade, aumenta a velocidade e promove a sustentabilidade", assegurou Cardona.

Para a produção anual de calças de ganga, estimada entre 3 e 5 mil milhões de unidades por ano, mais de 2 milhões de pessoas são expostas a práticas perigosas. Sensibilizado com a proteção dos trabalhadores, Carmona considerou que esta situação pode mudar "com a tecnologia, trabalhando com design e engenharia", garantindo que os desafios da empresa passam por "eliminar as substâncias nocivas e o risco de prejudicar a saúde dos trabalhadores". No entanto, o receio da possível perda de empregos é recorrente na hora de implementar a tecnologia. "Na minha opinião, o que se reduz são postos de trabalho perigosos. A tecnologia cria outras oportunidades, como cargos de design ou engenharia. É uma reconversão", nota, usando como exemplo a pioneira formação especializada em design a laser promovido pela Jeanología em Valência.

Outro dos receios do setor tem a ver com o nível económico, uma questão que Cardona não hesitou em esclarecer. "Nesta parte da indústria, produzir de forma sustentável é mais barato, economizando água e energia. Requer um investimento em tecnologia, mas o retorno é muito rápido: de 6 meses a 2 anos", afirmou, apoiando-se no facto de que as ferramentas de medição de consumo, como a desenvolvida pela empresa, EIM (Environmental Impact Measurement), permitem analisar os processos e identificar os elementos a melhorar.

A Jeanología opera atualmente em 50 países, emprega mais de 200 pessoas e, em 2017, faturou 61 milhões de euros. A fabricante de máquinas têxteis, que pretende superar a barreira dos 100 milhões no exercício de 2018, já conta com parcerias com a Uniqlo, a Gap ou a Tommy Hilfiger, entre outras. Uma história de sucesso "made in Spain" que mostra que a sustentabilidade pode ser rentável.

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