Noutro lugar, em Paris: Patou e Acne Studios

Paris tem tudo a ver com contrastes. Como prova a Patou sublinha o Gato das Botas e D'Artagnan (ou conde de Artagnan), entre outros, na nova coleção; e a Acne Studios dita tanto roupa interior como roupa exterior, na última declaração de Bodycon desta estação.

Já após apenas três anos, com Guillaume Henri a desenhar, a Patou cresceu rapidamente e atualmente inclui 130 clientes de lojas de retalho e lojas online.

"Agora estamos todos a voltar à vida real e eu perguntei-me, o que usaríamos? E decidi vestir as pessoas para uma festa que não existe, um pouco louca. Por isso, tinha em mente um pequeno herói – o Gato das Botas. E recorrendo ainda a múltiplos artistas que usam a fantasia como uma fuga", explicou Henri.

Guillaume Henri passou então a incorporar esboços de cenários e indumentárias do designer de moda Christian Berard, diretor de Arte no filme A Bela e o Monstro (1946); do arquiteto Jean Jacques Lequeu que esboçou um mundo de fantasia conhecido como Ilha Amor; ou do pintor Gustave Doré que ilustrou o Gato das Botas (c. 1868).

Henri molda muitas silhuetas inspiradas no século XVIII, mormente do Cardeal Richelieu (século XVII), mas em madeira de Clongowes púrpura, reciclada. De facto, cerca de 90% dos tecidos da coleção são reutilizados ou reciclados.

Múltiplas referências a mosqueteiros com golas que mergulham 10 polegadas no peito; algemas de cavaleiro e camisas que baloiçam pelo corpo. Tudo misturado com saias desportivas plissadas, respeitando o ADN de Jean Patou como o primeiro verdadeiro estilista a desenhar roupa desportiva ativa e chique. Ou flores de lapela usadas com casacos de malha reciclada, ou mesmo uma camisola rematada por fita de gorgurão.

"Tenho de admitir, esta foi a primeira vez em toda a minha vida que apresentei uma camisola durante a semana da moda", riu Henri. Noutra primeira vez filmou o seu próprio vídeo onde define cinco clientes: senhora executiva, jovem cool, influencer, mulher ativa e modelo de alta costura.

Todos os looks rematados com "joias reais" como correntes e colares de ouro falso com contas e fivelas de cinto e com partes usadas em cintos.

Numa palavra, a sua coleção mais bem realizada para a Patou, uma maison da LVMH que reuniu tranquilamente um verdadeiro impulso criativo.

O vestuário interior rebelde e o vestuário exterior sedutor constituem a mensagem chave na última coleção da Acne Studios.

Depois da época de pele mais exposta de Milão em décadas, também estão a exibi-la em Paris, especialmente na Acne Studios, onde a maior parte do elenco parecia ter emergido de um boudoir.

Espartilhos invertidos; cortados em viés, anatomizados com arneses e prolongados a meias corporais. Meias de renda e soutiens e tops micro em croché. Tudo cortado em pedaços, ligeiramente rasgado, costurado com tiras.

Moda marota mas nunca sadomasoquista. Mulheres em controlo mas sem dominadoras à vista. Todas a pisarem a passerelle de veludo nervurado, de pé, mas não em cima da audiência, enquanto se equilibravam em plataformas gigantes de contraplacado.

É um comentário sinalizador sobre esta estação, que mesmo mal escapando à pandemia e ainda muito a meio do movimento Me Too, os estilistas estão a enviar tanta moda reveladora. Os estilos Bodycon surgem por todo o lado, e a mensagem é que as mulheres podem ser tão orgulhosas e sugestivas quanto o desejarem, e isso não as barateia nem um pouco.

Assim, este foi o último triunfo do estilista da Acne Studios, Jonny Johansson, que conseguiu transformar uma marca sueca cool e credível num desfile imperdível na principal capital mundial da moda, Paris.

Noutro lugar, em Paris: Patou e Acne Studios

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