Por
Agência LUSA
Publicado em
29 de nov. de 2022
Tempo de leitura
4 Minutos
Download
Fazer download do artigo
Imprimir
Text size

Novo plano estratégico do calçado defende aposta “cirúrgica” na Europa, EUA e leste asiático

Por
Agência LUSA
Publicado em
29 de nov. de 2022

O ‘Plano Estratégico Cluster do Calçado 2030’, a apresentar hoje, 29 de novembro, defende uma concentração “cirúrgica” dos esforços promocionais e comerciais do setor em “mercados de elevado rendimento”, predominantemente concentrados na Europa, América do Norte e leste da Ásia.


Até setembro, Portugal exportou 61 milhões de pares de calçado, no valor de 1.537 milhões de euros - Foto: Duong Tran Quoc - Unsplash


Embora ressalvando que “os mercados a privilegiar por cada empresa têm de ser definidos tendo em conta o seu portefólio de produtos e modelo de negócio”, o documento destaca que, “ao nível setorial, a aposta estratégica na sofisticação e criatividade sugere que os esforços promocionais e comerciais se deverão centrar em consumidores e mercados de elevado rendimento que se encontram predominantemente concentrados na Europa, América do Norte e leste da Ásia”.

“Diferentes países apresentam diferentes padrões de consumo e uns adequam-se melhor do que outros à sofisticação e criatividade, e consequente preço, que caracterizam a oferta portuguesa. A procura por calçado com estas características concentra-se predominantemente em consumidores com níveis de rendimento elevados”, explica.

Entre estes mercados, o plano - preparado pela Associação Portuguesa dos Industriais de Calçado, Componentes, Artigos de Pele e seus Sucedâneos (APICCAPS), em parceria com o CEGEA – Centro Estudos do Núcleo do Porto da Universidade Católica – destaca o leste da Ásia como “a zona em que as perspetivas de evolução do consumo de calçado são mais favoráveis”, apontando baterias ao Japão e à Coreia do Sul em particular.

“No entanto, das três zonas, [o leste asiático] é também a mais distante, geográfica e culturalmente, o que constitui um obstáculo ao sucesso de uma estratégia que faz da flexibilidade e rapidez de resposta um dos seus atributos fundamentais”, reconhece.

A “grande dispersão geográfica dos principais polos de consumo na China” é referido como “outro obstáculo à atuação da indústria portuguesa, pelo que o plano estratégico aponta “para que Japão e Coreia do Sul assumam maior destaque como alvos de atuação nesta zona do globo”.

No que diz respeito aos EUA, onde a indústria portuguesa conseguiu “um bom desempenho na última década”, a APICCAPS nota que, “também aqui, a dispersão dos principais centros de consumo é um obstáculo”, mas defende que se trata de “um alvo que importa continuar a trabalhar, embora de forma segmentada”. Afinal, trata-se do “maior mercado do mundo e um mercado em que o desempenho português fica ainda aquém dos rivais mais próximos”: Itália e Espanha.

Assumida a aposta no leste asiático e na América do Norte, o ‘Plano Estratégico Cluster do Calçado 2030’ vaticina que, “necessariamente, a prioridade para a promoção do calçado português terá que continuar a ser a Europa”.

“É aí que os eixos fundamentais da nossa estratégia, como a sustentabilidade e a flexibilidade e rapidez de resposta são mais valorizados. São esses mercados de que estamos mais próximos, geográfica e culturalmente, e com eles partilhamos a pertença à UE [União Europeia] e tudo o que lhe é inerente”, sustenta.

Assim, na Europa a associação defende como “necessário prosseguir dois objetivos complementares”: “Em primeiro lugar, defender, e, se possível, reforçar a posição do calçado português nos seus mercados tradicionais. Serem tradicionais não significa que sejam nossos. Os mercados nunca estão assegurados e, em cada estação, temos que conquistar de novo os clientes”, enfatiza.

Ainda assim, e porque “é mais fácil manter um cliente junto do qual já se conseguiu uma boa reputação do que angariar um novo”, a APICCAPS considera que “o investimento na promoção para defender os mercados tradicionais é potencialmente mais rentável do que o direcionado para a entrada em novos mercados, necessariamente mais difícil e com menor probabilidade de sucesso”.

“No entanto – salienta - importa também procurar generalizar ao conjunto da UE o excelente desempenho que o calçado português tem nos seus principais mercados”, não passando a diversificação geográfica das exportações setoriais apenas pela aposta em mercados extraeuropeus.

Globalmente, da análise da APICCAPS aos mercados que oferecem melhores perspetivas de sucesso comercial ao setor resulta que “o mercado potencial do calçado português é constituído pelos consumidores que têm um rendimento igual ou superior à média do PIB [Produto Interno Bruto] per capita dos países da OCDE [Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico] em 2020, ou seja, cerca de 38.500 dólares [37.000 euros ao câmbio atual]”.

De acordo com este critério, o mercado potencial para o calçado português equivale a 9,1% da população mundial, ou seja, cerca de 690 milhões de pessoas, estimando-se, com base em informação disponível no Banco Mundial, “que 30% destes consumidores se localizem nos EUA, 21,6% na UE, 11% na China, 7% no Japão e 7% noutros países europeus, estando os restantes dispersos pelo mundo”.

Numa análise mais aprofundada, a associação estima que “existam no mundo 145 cidades” que devem ser consideradas prioritárias para o calçado português, 63% das quais concentradas na Europa e nos EUA.

Constituído por 1.500 empresas, responsáveis por cerca de 40 mil postos de trabalho, o setor de calçado exporta mais de 95% da sua produção para 172 países, nos cinco continentes. Até setembro, Portugal exportou 61 milhões de pares de calçado, no valor de 1.537 milhões de euros, o que representa um crescimento de 22,5% face ao período homólogo do ano anterior.

PD // MSF (Lusa)

Copyright © 2024 Agência LUSA. Todos os direitos reservados.