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O poder das flores na nova coleção da Comme des Garçons Homme Plus
Rei Kawakubo – a designer de moda japonesa fundadora da Comme des Garçons e do Dover Street Market, que vive entre Tóquio e Paris – expressou com flores a sua última coleção para a Comme des Garçons Homme Plus. Um show de verão dedicado à estação de primavera-verão 2022 (ano em que Kawakubo também celebra o seu 80.º aniversário), ligando-se à obra de colagem Rocky Mountain do artista Bedelguese.
A coleção é a talentosa interpretação de Kawakubo da colagem em roupa masculina de alta costura: como os casacos Eisenhower ou os blazers de oficiais dissecados a meio do peito e rematados nas costas com fragmentos de tentáculos florais, sendo as costas costuradas com restos de tecido.
A sua alfaiataria raramente tem sido melhor, quer o casaco de safari cáqui de tenente com corte em vieiras, quer os punhos de tecido com botões expostos praticamente até à manga. Os florões e os calções de trabalho são usados com fatos soltos, vários com o tartan fétiche de Kawakubo e punk, impossíveis de virar a cara. Trata-se de uma coleção adequada a uma estrela de Rock, intitulada The Existence of Flowers (A Existência de Flores).
"As flores não existem apenas para tempos felizes. Existem também para tempos difíceis e dolorosos. Mesmo uma pequena flor à beira da estrada pode curar o nosso coração despedaçado", assim expressou os sentimentos, num comunicado, a renomada designer japonesa.
No entanto, o momento mais fresco da apresentação foi a colaboração com Travis Bedel, mais conhecido como Bedelgeuse, um jovem artista de 31 anos que vive em Phoenix, Arizona (EUA). Depois de seguir uma formação em desenho de som, Bedelgeuse passou a expressar-se em obras de arte onde desenvolveu uma técnica muito pessoal de colagens inspirada em quadros anatómicos, botânicos ou entomológicos.
As suas colagens anatómicas ganham na coleção um ar fantasmagórico, que parece ter muitas afinidades com a Comme des Garçons. O artista misturou elementos de cristais, flores e penas em imagens de tamanho excessivo vistas em camisolas alongadas e em camisas de comprimento até ao joelho, algumas com um corte de pele falsa.
"A maior parte do meu trabalho representa amor, perda e abandono", disse Bedelgeuse sobre as suas colagens, que o próprio considera criadas para expressar a psique humana e a sua beleza fugaz.
Também dignas de nota foram as espantosas peças produzidas pelo estilista, editor de moda e artista afro-britânico, Ibrahim Kamara, descrito como uma das vozes mais excitantes e criativas da sua geração: esculturas em papier mâché que se agarravam aos crânios dos modelos; uma delas apresentava até uma espécie de cassetete a atingir a cabeça. Tudo numa atmosfera de loucura mutante e em constante mutação.
África é uma eterna inspiração para Kamara (segundo o próprio afirma), que não esquece as raízes, como sendo natural da Serra Leoa, criado na Gâmbia até aos 11 anos, altura em que se mudou para Londres. Investiga muitas culturas tribais diferentes de toda a África, que se refletem no seu trabalho.
Estas criações foram apresentadas num vídeo filmado no Japão, num estúdio com 20 cadeiras de plástico, mas sem audiência. Uma afirmação maximalista num cenário minimalista.
O facto é que, mesmo a 10 fusos horários de distância, desprovida de qualquer audiência e filmada claramente num estúdio não decorado, esta coleção reserva mais ideias do que praticamente qualquer outra que um diferente designer de roupa masculina tenha ditado para este verão.
É simplesmente impossível parar Rei Kawakubo, que está no auge dos seus 78 anos, a completar 79 em outubro próximo, e 80 em 2022.
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