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Off-White para o outono-inverno 2021: diversão com M.I.A. e Virgil Abloh
Dizemo-lo a Virgil Abloh e à Off-White, que sabem mesmo como fazer um bom show. A julgar pelo seu último desfile físico em passerelle que ocorreu na tarde de domingo (4 de julho), em Paris, com M.I.A. a realizar um miniconcerto ao vivo na final, e com leque de supermodelos novos e antigos a desfilarem os últimos desenhos para a marca italiana de luxo assinados pelo designer de moda americano natural de Chicago.
Virgil Abloh revelou a sua coleção Intitulada Laboratory of Fun (Laboratório de Diversão), até à data a mais personalizada e soigné, talvez como resultado final de um movimento de alta gama.
Esta semana, Abloh abriu uma nova flagship emblemática parisiense na rue Castiglione, com o nome do famoso autor da obra Il Libro del Cortegiano (O Livro do Cortesão) – um manual didático de etiqueta e ética cortesã, publicado em 1528, inspirado no humanismo renascentista e em assuntos reais. E a loja situa-se a apenas 50 metros de um padrão real do luxo – a Louis Vuitton, onde Abloh desenvolve o seu trabalho noturno como diretor criativo de roupa masculina.
Curiosamente, Baldassare Castiglione dedicou este autêntico best-seller do século XVI (com traduções em várias línguas e mais de 150 edições) ao bispo português D. Miguel da Sylva, que viveu os últimos 15 anos de existência em Roma, acumulando riquezas e mercês, e sendo mesmo nomeado cardeal pelo papa Paulo III. Em Portugal, apesar do seu papel na valorização da Foz do Douro (Porto), e também de Viseu, e da sua importância como grande figura do renascimento europeu, que privou com grandes artistas e intelectuais do seu tempo, o nobre português de Évora, embaixador em Roma, bispo de Viseu e cardeal da Igreja Católica Romana ainda é pouco evocado na História de Portugal.
Voltando à coleção da Off-White, Bella Hadid – a americana de ascendência palestina – abriu e fechou o show, exatamente no mesmo azul elétrico infinito de Yves Klein (Infinity Blue). A abertura foi com um vestido cocktail aveludado completado com botas altas até ao joelho levemente marmorizadas e grandes peças de joalharia em ouro. O look final foi menos feliz: o mesmo veludo cortado num vestido de flamenco com ancas e peito marcados. Se Bella pareceu alegre (como é raro) na abertura do desfile, claramente deixou escapar uma careta no final – o que melhor e mais depressa a fez virar antes do poço dos fotógrafos, e quase enganosamente.
A seguir veio o maior modelo indie da década de 1990, a veterana americana Amber Valletta, com a sua passada de assinatura, numa alta postura de ombros descaídos. Desfilando entre uma série de grandes colunas de contraplacado dignas de Charles René Macintosh num fato de couro engomado azul-pedra e blazer com botões off-center.
Relevamos os fatos prussianos de lã azul frio enfeitados com chapéus cloches ou outras versões em couro cru, todos de um bom gosto burguês, se bem que o designer mudou de roupa para a noite: um trio de vestidos cortados e estendidos ao longo das costuras laterais. Trajes de abertura de galerias de arte por excelência.
"A coleção fala em parte às minhas raízes como arquiteto", sublinhou Abloh nas suas notas de programa.
O seu grande truque de estilo foi a série de espartilhos em miniatura, zelosamente diabólicos com chifres de tecido, mas usados à volta da cabeça como uma máscara e não sobre qualquer parte do tronco.
Em conjunto, Abloh também cortou alguns blazers de nylon laranja muito naturalmente; matelassé com folhos e sem mangas; e uma série de calças volumosas, brincando por todo o lado com perfurações e diferentes formas de costas.
No final, os convidados praticamente lutaram por uma cópia do convite: um quadrado de Perspex cor de cal com o nome da marca estampado. E houve ainda a sensação da presença de stencil nesta coleção.
Tudo dito: foi a exposição mais personalizada e tradicionalista de Virgil Abloh, sem camisolas de DJ e com doses limitadas de roupa de rua. E, no entanto, no seu todo, tudo pareceu agora muito mais seguro.
Virgil Abloh estava tão confiante, que passeou para cumprimentar os convidados antes do show. E como todos os seus convidados usava uma máscara. Depois conduziu o elenco para um último passeio, terminando no palco, onde deu a M.I.A. um grande apoio enquanto esta executava uma versão completa do seu icónico sucesso Paper Planes (Aviões de Papel).
Definitivamente, um laboratório divertido.
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