
Helena OSORIO
30 de mar. de 2022
Os 100 anos da Ourivesaria Tavares na Póvoa de Varzim com aposta no digital sem esquecer a tradição

Helena OSORIO
30 de mar. de 2022
A Ourivesaria Tavares assinala este ano o seu centésimo aniversário, preservando a herança, mas também a inovação, arrancando em 2022 com uma nova imagem, novo packaging, site reformulado e nova loja online. Contudo, o objetivo é apostar cada vez mais no digital, não esquecendo o atendimento físico e personalizado aos clientes, que persiste ao sabor do tempo e ao contrário de outras históricas da mesma rua que desapareceram há alguns anos. A Tavares firmou-se no número 54 da rua da Junqueira na Póvoa de Varzim onde ainda se mantém com loja e oficina. Por maré de altos e baixos em momentos de insegurança e fartura inerentes a cada época, a Tavares ultrapassou mais recentemente a grande quebra da pandemia em 2020, logo superada em 2021. Uma história centenária de amor e resistência.

Os irmãos Ana e Carlos Tavares mantêm-se à frente do negócio desde 2010, como sócios gerentes, defendendo a tradição de uma zona de pescaria e veraneio onde se investia tradicionalmente em ouro pela tradição de amealhar e dote; ou mesmo mentalidade que o ditado popular revela: “Terra quanta vejas e ouro quanto possas”.
Sedeados na rua da Junqueira que assim se chama em memória do antigo curso fluvial com juncos, uma das primeiras ruas pedonais de Portugal, os dois irmãos cresceram a ajudar o pai, de bicos de pés para chegar ao balcão, a atender os clientes (porventura mais a brincar do que a sério) e a fazer os deveres da escola.
A ourivesaria foi fundada em 1922 pelo avô Vírgilio Aristides Tavares, como Andrade & Tavares. Em 1937, a sociedade compra em hasta pública o número 54 da então rua 5 de Outubro, onde a ourivesaria já funcionava há 15 anos, passando a instalar-se aí a residência da família, para além da loja e oficina. Mal o avô dos atuais proprietários, Vírgilio, acaba por assumir o comando da empresa como sócio totalitário.

O avô natural de Bragança esteve a combater na I Guerra Mundial, aprendeu o ofício no Porto e acabou por se radicar na Póvoa de Varzim, não perdendo o hábito das viagens por se deslocar frequentemente a feiras de Vila Real e Chaves com duas malas carregadas de joias e dois relógios de parede pendurados à frente e nas costas, dizem. Partia carregado de carreira e regressava de mãos livres.
O fundador morre em 1954 e os três filhos assumem o negócio. Ana e Carlos não chegam a conhecer o avô, mas o seu pai Manuel Miguel passa-lhes a história e o legado. O pai era apaixonado pelo ouro e transmitiu-lhes também esse amor e a própria coleção que criou com mais de 100 peças em ouro (brincos, pregadeiras, etc.).
A ourivesaria gerida por Ana no atendimento ao cliente e colmatada por Carlos que estudou gemologia em formações pelo mundo, especializando-se em diamantes, celebra o seu centenário com nova imagem da empresa e nova fachada da loja, que foi inaugurada no dia 23 de março..

Em 2020, a pandemia representou um golpe com uma quebra de 26%, logo recuperada em 2021 com um ano bastante positivo, subindo 16% a 17% em comparação com 2019.
Cerca de 20% da faturação da Tavares vem das alianças para os noivos, muitas feitas à medida na pequena oficina onde trabalham quatro ourives e uma designer. Também se dedicam ao restauro de peças antigas.
Em outubro do ano passado, os irmãos abriram a loja online com peças mais simples, que chegam a países como África do Sul, Canadá, Estados Unidos ou Suíça, pois a empresa não sobrevive apenas do mercado local, asseguram os irmãos, que pretendem abrir outra loja em Lisboa ou Porto. Curiosamente e apesar de Portugal não ser apontado como um país de grandes marcas de joalharia, a Cartier e a Chopard são produzidas em território português, asseguram, fomentando a viabilidade do negócio.
É assim através do digital que a Tavares espera assumir-se como uma empresa nacional (com clientes habituais em Portugal de lés-a-lés, como na Figueira da Foz, Lisboa e Madeira), apostando no aumento da sua presença internacional, em especial junto das comunidades portuguesas pelo mundo. A intenção é juntarem-se também a grandes marketplaces internacionais, com vista à visibilidade global.
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