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Helena OSORIO
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6 de fev. de 2023
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Paco Rabanne e Pasaia: o museu que ainda não pode ser

Por
EFE
Traduzido por
Helena OSORIO
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6 de fev. de 2023

A Cristóbal Balenciaga, a sua cidade natal Getaria dedicou-lhe um museu quase 40 anos após a sua morte. Paco Rabanne, igualmente da província de Gipuzkoa, parte do País Basco espanhol, também não pôde ter o seu museu em vida, em Pasaia, cidade onde o couturier e perfumista radicado em França nasceu em 1934 e de onde partiu aos 5 anos após a execução do pai, um coronel republicano.


"Alicates, pinças, martelos e cola são as ferramentas do meu ofício" (Monsieur Rabanne, 1967) - @pacorabanne / Instagram


Ambos os projetos, o que se concretizou e o que ainda está por concretizar, uniram-se por uma característica espacial e pelo mesmo nome na assinatura: ambos eram faraónicos e ambos foram concebidos pela mesma pessoa, Julián Argilagos, arquiteto cubano sem diploma aprovado em Espanha, que chegou ao País Basco pela mão do ex-presidente da Câmara de Getaria, Mariano Camio, do PNV (Partido Nacionalista Basco), que obteve o apoio de instituições públicas e privadas para construir o Museo Cristóbal Balenciaga.

Camio apostou no sonho de construir um museu em honra de Cristóbal Balenciaga no palácio Berroeta Aldamar, a residência de verão oitocentista dos Marqueses da Casa Torres, avós maternos da rainha Fabiola da Bélgica e do seu irmão ator Jaime de Mora y Aragón, por aí ter nascido o couturier dado a mãe trabalhar como costureira para os marqueses.

A obra foi levada a cabo juntamente com o arquiteto cubano que desembarcou com a mulher em 1994 no País Basco para abrir uma galeria de arte contemporânea. A primeira pedra do edifício de Getaria foi lançada há sete anos.

Por detrás da Balenciaga Foundation, a entidade público-privada que Camio promoveu, estiveram nomes como a própria rainha Fabiola da Bélgica, o tenor Plácido Domingo e estilistas como Hubert de Givenchy que apresentou 90 peças, Oscar de la Renta, Emanuel Ungaro e Yves Saint Laurent, assim como Ramón Esparza, um dos últimos colaboradores de Balenciaga.

Mariano Camio conseguiu ainda que a Condessa Mona Bismarck; Rachel Mellon, filantropa amiga dos Kennedys e designer do jardim de rosas da Casa Branca; Meye Maier Allende, nascida em Bilbao; Silvia Arburúa, mulher de Marcelino Oreja; ou Sonsoles Díez de Rivera, filha da Marquesa de Llanzol e padroeira fundadora, vestissem pela ocasião os vestidos do designer. 


Julián Argilagos (à esquerda) com Paco Rabanne no Museo Cristóbal Balenciaga - Elcorreo.com


Quando as irregularidades foram descobertas, as instituições foram obrigadas a suspender o projeto, não a cessá-lo porque parte do edifício já estava construído. Camio quis "enriquecer" o arquiteto cubano pela "relação sentimental" que os unia, adiantou então o El Correo.

Mas antes do escândalo, Julián Argilagos teve uma ideia similar: outro museu a 30 quilómetros de distância para o costureiro nascido em Pasaia como seja Francisco Rabaneda Cuervo, mais conhecido por Paco Rabanne.

Neste caso, não era o PNV que governava, mas a Bildu (coligação política espanhola de âmbito basco adscrita ideologicamente à esquerda regionalista / separatista), cujos representantes iniciaram reuniões com Paco Rabanne em Paris em 2002 para avançarem com a materialização do projeto.

Após as eleições de maio de 2003, o socialista Izaskun Gómez tornou-se presidente da Câmara, e a 27 de outubro de 2003 foi o anfitrião do designer quando este viajou até Pasaia para conhecer os projetos de um espaço que planeava hospedar, para além de contar com um salão de exposições, um instituto internacional de moda, um hotel e uma passerelle de moda.


Paco Rabanne - primavera-verão 2023 - Womenswear - França - Paris - © ImaxTree


Com a bênção do criador, prosseguiam os planos de construção do único museu Paco Rabanne do mundo, que, além de homenagear um dos seus filhos mais ilustres, seria um passo para a regeneração daquele município e da sua baía, uma das áreas mais degradadas de Euskadi (Comunidade Autónoma do País Basco).

Julián Argilagos não ficou satisfeito com a sua ideia inicial e em julho de 2005 apresentou um projeto denominado "Fashion Art City", que acrescentava ao já proposto a construção de seis torres habitacionais de luxo com 32 pisos, dois hotéis de 50 pisos e uma cidade de tecnologia e desenho. Uma verdadeira cidade da moda de aparência futurista que nunca teve orçamento ou investidores.

O Colegio Oficial de Arquitectos Vasco-Navarro, que mantinha a polémica com Argilagos pela necessidade do certificado académico nos projetos para garantir que os autores sejam profissionais qualificados, disse que no novo projeto do cubano “beirava a comédia”.

A Câmara Municipal rejeitou, por sua vez, categoricamente esta última proposta, com a qual "o próprio Rabanne" não concordou, segundo Izaskun Gómez, que recuperou o gabinete do presidente da Câmara em 2019 e que, por ocasião da morte do costureiro e perfumista aos 88 anos, na passada sexta-feira (3 de fevereiro), o recordou como "uma grande figura da moda internacional".

"Era mais do que um designer. Era um inovador, um transgressor, à frente do seu tempo", salientou Gómez, que lamenta que Pasaia ainda não lhe dedique um espaço.


Paco Rabanne lança primeira coleção de fragrâncias Pacollection, em colaboração com o diretor criativo Julien Dossena. - Paco Rabanne


Depois do fiasco de Julián Argilagos, uma plataforma de Pasaia, do distrito de Trintxerpe de onde veio Rabanne, continuou a propor ideias para tornar um museu possível, mas as instituições não conseguiram chegar a um acordo.

"Por mea culpa. As instituições têm sido passivas face a isto, temos de o dizer tal como é. Não gosto do facto de os tributos não serem pagos durante a vida, mas parece que nós, instituições, estamos condenados a não fazer nada até quando a pessoa morre. Temos uma dívida com Paco Rabanne, Pasaia deve-lhe isso", sublinhou por fim, esperando que surjam propostas de viabilização do famoso museu e eventuais novos projetos. Quiçá o grupo Puig de Barcelona, detentor da sua maison, já esteja a ponderar esta questão.

Por curiosidade, a mãe de Paco Rabanne terá trabalhado no atelier de Cristóbal Balenciaga, em San Sebastían, como costureira, anunciou o El País, o que atraiu Paco para a moda, depois de ter estudado Arquitectura na Escola Superior de Belas-Artes, em Paris. Chegou a colaborar com a Dior, Givenchy e Balenciaga, antes de se lançar com o próprio nome.

Em Espanha, em 2000, o distinto couturier basco foi distinguido com a Medalha de Ouro em Belas-Artes; e, em 2010, com o Prémio Nacional de Moda. Em França, era membro da Legião de Honra Francesa, desde 1989.


Por Ana Burgueño
 

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