Paris: as marcas de autor afirmam-se mais do que nunca
O segundo dia de desfiles em Paris demonstrou mais uma vez a efervescência da criatividade na capital francesa. Desfilando à sombra da Dior na terça-feira (28 de fevereiro), muitas marcas, como a Victoria/Tomas, Dawei, Anrealage e Mame Kurogouchi, mostraram que já tinham o seu lugar reservado nas passerelles. Tendo estabelecido a sua notoriedade nos últimos anos, confirmaram o seu talento ao focar belas coleções cada qual na sua identidade.
Para o próximo inverno, a Victoria/Tomas está a voltar ao básico, levando o tema masculino-feminino ainda mais longe. A mulher assume uma atitude mais viril, enquanto que o homem se suaviza. Encontramos as gabardinas, as sweaters, as calças cool, os vestidos-camisa, mas revistos em novas proporções e num estilo essencial. “São as peças que gostamos de vestir. Voltámos ao que gostamos de fazer com as duas visões do homem e da mulher”, explica nos bastidores Victoria Feldman, que há 10 anos se associa a esta aventura com Tomas Berzin.
"Ao mesmo tempo, é muito mais sexy, mais curto, mais transparente. Fizemos algo que não ousávamos fazer antes. É um novo passo para nós", continua. A coleção alterna comprimentos. Por um lado, os maxi, com os trench coats super pretos e camel que vão até aos pés, ajustados na cintura, decorados com argolas de metal; ou com as sweatshirts polares muito cómodas que se prolongam num vestido até ao chão.
Do outro, o mini. A começar pelo soutien-gorge liliputiano formado por dois pequenos retângulos de metal apresentado na abertura do desfile. sem esquecer os microshorts de couro preto com franjas de correntes, as saias niveladas com as nádegas, que desaparecem sob blusões e casacos doudounes oversized. A maioria dos tops (duvet, hoodie, casaco militar) também são encurtados sob o peito, como crop-tops. O look é definido pelo boné bad boy e botas motard, para serem alternados com sandálias douradas e meias de lã.
O homem veste conjuntos de véus transparentes e pijamas de cetim, às vezes sobrepondo calças de tule. Os modelos carregam alguns dos perfumes emblemáticos da Caron, com quem a marca criou uma colaboração original, onde o Tabac Blonde (1919), Pour Un Homme (1934) e o mais recente Musc Oli são usados como acessórios.
Dawei também se concentra no que faz de melhor. Peças essenciais com cortes e detalhes trabalhados, que podem ser usadas todos os dias com desconcertante facilidade. O seu urban chic com um quê de romântico é acentuado nesta temporada por um toque vitoriano do século XIX, com corpetes usados como um top simples ou espartilhos matelassés a fechar um casaco, vestidos évasées e corpetes franzidos de mangas em balão.
Tudo se joga na silhueta e nos volumes com saias de roda que descem até o tornozelo. Os modelos de tweed de comprimento médio são construídos por uma estratificação de tecidos quadrados recaindo em pontos. Noutros lugares, o quadrado de tecido é sobreposto em calças ou é banhado na frente de uma camisa em forma de folhos ou mesmo dum casaco assumindo o aspeto de peplum ou basques nas laterais.
Dawei Sun também brinca com as pregas, que multiplica, das mais finas às mais largas, dispostas em direções opostas. Bordam-se tops e saias em ondulações móveis, abrem-se em leque, alargando um casaco espinha de peixe. O forro desliza sobre uma saia plissada com efeito "cesto". Um tecido leve com micro plissados é usado para criar conjuntos diáfanos em tons elegantes como se inchados pela brisa. Mais adiante, capas, tops e saias parecem prontos a abrir como paraquedas. O criador chinês também desfila diversos modelos masculinos vestidos com elegantes fatos ou usando saias.

A maison Anrealage também se está a reconectar com as proezas tecnológicas, que fizeram a sua reputação no passado. O designer japonês Kunihiko Moriniga levou os seus convidados ao Théâtre de la Madeleine para uma demonstração mágica e de tirar o fôlego. Como um mágico, primeiro desfilou uma série de roupas brancas imaculadas. Casacos vestidos do lado direito ou de cabeça para baixo, amarrados com um grande laço, fatos com casaco masculino extra large sobre camisa e gravata, sobretudo forrado, além de toda uma série de vestidos levemente retro, em renda, com mangas de folhos ou évasées e ajustado na cintura.
As modelos com os cabelos escondidos por um gorro felpudo representam-se uma segunda vez no palco, sempre duas a duas, imobilizadas ao centro, de olhos fechados. Uma espécie de néon projetando raios ultravioleta desce então do teto, varrendo as suas roupas fotossensíveis de cima a baixo e o milagre ocorre diante dos olhos atónitos do público, que aplaude enlouquecido. As roupas são cobertas, de facto, com cores à medida que avançam.
O efeito é ainda mais prodigioso quando, de repente, os mil e um detalhes da roupa aparecem bem nítidos numa extensa paleta de verdes, rosas, amarelos, azuis, malvas, etc., passando por padrões escoceses e geométricos, riscas, xadrez e até peles, tingidas de turquesa ou lilás. As criações de repente ganham outra dimensão.
Este tingimento por processo fotocrómico é, no entanto, apenas efémero, pois a peça recupera a sua cor inicial em poucos minutos. E o show pode recomeçar para o gran finale, despertando o mesmo deslumbramento.
Fã da moda delicada e tátil, a marca Mame Kurogouchi da designer japonesa Maiko Kurogouch, assina uma coleção elegante que encontra o equilíbrio certo entre design sóbrio e savoir-faire artesanal. Estrutura a sua coleção em duas partes. A primeira apresenta silhuetas minimalistas com mangas levemente arredondadas, assim como as costas de certos boleros.
Grandes casacos assimétricos sem botões visíveis, concebidos como túnicas, associam-se a calças direitas de cintura alta, ou a saias compridas com aberturas ou modelos com pregas largas. Casacos macios de caxemira combinam com vestidos transparentes de malha fina. Bolsas de feltro ton sur ton, presas ao tronco na diagonal ou na cintura, parecem estar integradas à peça como bolsos.
A segunda parte dá lugar de destaque às técnicas ancestrais de trançado e impressão. A estilista Maiko Kurogouchi continua a sua exploração em torno dos antigos cestos de bambu, reproduzindo a sua tecelagem em malhas elaboradas, com pontos em relevo, que criam efeitos de textura, ou através de estampas abstratas em casacos forrados ou peças de mohair, que imitam os seus efeitos de luz e sombra.
Também está interessada nesta temporada nas redes usadas para envolver o presunto. Pediu a artesãos especializados que fizessem as suas fitas trançadas com a mesma técnica, que usa para bordar tops e saias em rosáceas habilidosas e volutas coloridas.
Copyright © 2023 FashionNetwork.com. Todos os direitos reservados.