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Paris Fashion Week: a mulher é poderosa na Off-White e delicada na Shang Xia
A Off-White e Shang Xia abriram o quarto dia da Paris Fashion Week em grande estilo, na quinta-feira (2 de março), dedicado ao prêt-à-porter feminino para a estação de outono-inverno 2023/24. A primeira maison organizou um desfile de grande impacto projetando as suas criações num planeta distante, a segunda focou-se num guarda-roupa jovem e muito contemporâneo.
Um enorme globo de aço domina o centro do palco coberto de terra e pedras espalhadas por toda parte, recriando uma paisagem lunar empoeirada. Um deserto como uma página em branco para escrever o resto da história da Off-White. Enquanto que na sua primeira coleção no verão passado, o designer Ibrahim Kamara prestou homenagem a Virgil Abloh, a quem sucedeu no ano passado, agora está a abrir um novo capítulo. “Esta coleção marca o início de uma nova viagem, inspirada num mundo em construção. Imagina algo que ainda não existe”, explica na sua nota de intenção.
O palco está, portanto, montado, pronto para receber exploradores e tribos intergalácticas de um futuro indeterminado. Duas alças perfuradas com ilhós de metal cruzam-se no peito das modelos, como cartucheiras. Esses círculos de metal prateado estão por toda parte, dando uma aparência marcial a roupas totalmente pretas. Jovens ou mais velhas, desenham bordados em tops e malhas, enfeitam as orlas das roupas, energizam saias curtas com pregas largas ou assumem vestidos, calças, casacos e até peles, inteiramente crivados destas pintas.
Conjuntos monocromáticos de laranja e azul celeste cabem no guarda-roupa, assim como conjuntos de malha com furos aqui e ali, e decorados com correntes finas, tricotadas em gradação de tons outonais. Também estão disponíveis blusões e casacos de lã em tons de cáqui e castanho, estilo camuflado, que lembram essas imagens da terra vista do céu. Ainda nessa ideia, personagens pequeninos fotografados de cima vagueiam com um belíssimo traje de couro caramelo.
Se as mulheres têm ares altivos de rainhas, como a supermodelo Naomi Campbell moldada num vestido sinuoso e nu nas costas, os homens vestem-se como exploradores ou guerreiros do universo com mochilas nas costas, multiplicando às vezes uma infinidade de mini bolsas e pochettes, ou imprimindo um trompe-l'oeil num casaco. Alças de bolsas e paraquedas pendurados na frente dos casacos, abraçando os ombros ou saindo discretamente de sweaters. Grandes casacos doudounes e calças militares com bolsos com fecho de correr completam a panóplia, juntamente com um traje espacial feito de um cobertor de sobrevivência prateado em relevo.
A silhueta, por fim, é redefinida por acessórios futuristas, como óculos alongados com lentes coloridas, vistosos brincos esféricos, bonnets de metal composto por rodas dentadas (estilo Martien), enquanto que os dedos dos pés são equipados com um refletor de plástico, como um farol de bicicleta.
A Shang Xia apresentou uma coleção elegante, toda em leveza. O jovem diretor criativo Yang Li continua a reposicionar em design contemporâneo a marca adquirida em 2020 pela Exor, holding da Agnelli. Calçando mules sobrelevadas sem salto, as modelos parecem mover-se na leveza, acompanhadas pelas notas de uma guitarra elétrica tocada ao vivo. Este lado etéreo é sublinhado por longos retângulos de tecido ondulado, aplicados na parte de cima de certos tops e vestidos, ou por vestidos impalpáveis, que se alongam nas costas.
Mas também através de aberturas revelando o corpo. Em particular, através de grandes lacunas cortadas sob as axilas dos vestidos, assumindo a forma de ampulhetas, ou vigias abertas nas laterais dos casacos de caxemira. Noutros looks compostos por malhas e saias pretas vazadas, uma miríade de círculos revela a brancura da pele em efeito leitoso.
Como sempre, o designer privilegia um design elegante, quase minimalista. Sem frescuras. Sem estampas, apenas monoblocos de cor, o look às vezes chicoteado pelo inesperado vermelho brilhante de um casaco ou o amarelo limão de calças justas. Apenas alguns motivos gráficos adornam certos modelos, ganhando por exemplo a aparência de montanhas rochosas numa série de casacos doudounes e leggings desportivas.
Este guarda-roupa para o próximo inverno é acima de tudo muito bem estruturado e prático, pensado para a Gen Z (especialmente chinesa), que a marca quer seduzir. É composto por roupas usáveis e fáceis de combinar entre si. A mulher Shang Xia pode escolher entre vestidos de tweed com xadrez pequeno, casacos soltos, vestidos mini camisa e outros cap coats, enquanto não hesita em trocar as suas mules sobrelevadas por uns ténis de cano alto com atacadores mais confortáveis.
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