Portugal e a sua onda de moda vanguardista
Na sua última edição de janeiro, o Pitti Uomo transformou Portugal no seu país convidado. O reconhecimento do salão florentino, referência mundial da moda masculina, que a priori funciona como uma plataforma comercial e de visibilidade internacional, também significou para o país um reconhecimento definitivo. Historicamente considerado um país de indústria e matérias-primas, o design português conquistou a aprovação criativa. E se agora Portugal joga na liga dos grandes, é essencial não perder de vista os designers com maior potencial. Fomos até à ModaLisboa para os descobrir.

Primeira paragem: Workstation. Realizada na véspera da 52ª edição da ModaLisboa, a plataforma composta por quatro criadores emergentes instalou-se nas Carpintarias de São Lázaro para apresentar as suas propostas em formato performance, em jeito de alternativa à passarela mais convencional, que teria lugar nos dias seguintes no Pavilhão Carlos Lopes. Vencedor há um ano do Sangue Novo, a categoria dos jovens designers na passarela, Filipe Augusto voltou a seduzir com o seu menswear com reminiscências da tradição e artesanato locais. Uma coleção executada com mestria, entre quadros e fatos de ares femininos, sob uma imagem reta das crianças bem comportadas de antigamente, estudantes de colégio católico.
Como todos os anos, o Sangue Novo voltou a revelar-se uma interessante fonte de novidades e propostas. Uma nova geração de criadores posiciona-se mais próxima da arte e da investigação criativa de materiais e tecidos do que da vontade comercial ou da própria criação de marca. 'Fluxo 19' destacou-se como a coleção de maior potencial a nível internacional e o seu criador, o britânico Archie Dickens, conquistou o prémio da distribuição na The Feeting Room, a exclusiva concept store com espaços no Porto e em Lisboa. Especialista em knitwear, formado no Chelsea College of Art, o criador explorou o movimento através de relevos de malha, obtendo uma coleção de grande interesse para os compradores presentes.
No entanto, a surpresa mais agradável da semana da moda lisboeta ficou a cargo de Constaça Entrudo, no espaço industrial The Warehouse. Formada pela reputada escola Central Saint Martins, a designer passada pelas fileiras da Marques Almeida ou Peter Pilotto trabalha atualmente em Paris para a Balmain e lançou-se na criação da sua própria marca homónima em 2017. Com tecidos e estampados feitos à mão e inspirados pela visita a uma antiga fábrica de bordado da Madeira, a coleção unissexo respirou a rebeldia e a frescura de um talento emergente. As chaves da sua aposta: cores e inspiração dos anos setenta, apoiadas em cortes sinuosos e na ousada mistura de materiais.
De regresso ao Pavilhão Carlos Lopes, que acolheu os restantes desfiles da fashion week, o jovem designer David Ferreira voltou a desenvolver o seu conceito de couture, que já seduz muitas celebridades a nível internacional. Formado sob a batuta de Iris Van Herpen, o criador desenvolveu volumes e texturas complexos, resultantes de um cocktail perfeito entre Maria Antoineta e Lady Gaga. Proveniente, por seu lado, das fileiras da plataforma Portugal Fashion, a marca de streetwear masculino Nycole inspirou-se na obra do DJ Rival Consoles. Um exercício desportivo, combinado com elementos de malha reinventados, que voltou a transformar a sua designer, Tânia Nicole, em protagonista, após a sua passagem pelo Pitti Uomo no inverno passado. Por fim, e já com lugar cativo na ModaLisboa, o designer Luís Carvalho voltou a convencer com uma aposta mista sóbria inspirada no trabalho do artista digital Matthieu Bourel. Uma coleção sólida e madura destinada a convencer o estrangeiro. Note-se que o charme de Luís Carvalho já lhe valeu o apelido, em alguns setores, de 'Jacquemus português'.
Para quem procura grandes marcas internacionais em Lisboa, a edição de primavera da semana da moda coincidiu com a inauguração da exclusiva concept store Tem-Plate. Um espaço destinado a converter-se numa boutique de luxo de referência, situada na freguesia de Marvila, que já acolheu fábricas e armazéns, mas agora é chamado de 'Soho' lisboeta. Mais um exemplo de como a capital fez o trabalho de casa para ser cool, com o seu próprio e autêntico panorama de moda local.
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