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21 de out. de 2020
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Poucas mas boas: as novas lojas de moda e luxo na avenida dos Aliados no Porto

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21 de out. de 2020

A reabilitação de edifícios históricos, na avenida dos Aliados, no Porto – ou, a sua reconstrução, uma vez que na maioria só foram recuperadas fachadas –, originou a abertura de novas lojas de moda e luxo. Curiosamente, estes espaços fixaram-se à direita da avenida, quando de costas voltadas para a Câmara Municipal do Porto – edifício de seis pisos, com torre central de 70 metros, projetado em 1920 pelo arquiteto Correia da Silva. Como aliás os restantes edifícios desta principal artéria do centro do Porto, aberta em 1917, os quais rondam em geral as primeiras décadas do século XX


Nova boutique Fátima Mendes, no Le Monumental Palace da cadeiahoteleira francesa Maison Albar - Foto: Carlos Costa


Logo no alto, no Le Monumental Palace da cadeia hoteleira francesa Maison Albar, inaugurado no final de 2018, encontramos a loja de Fátima Mendes que trabalha, há 40 anos, com alta-costura, distinguindo marcas como a Céline, Dolce & Gabbana e Valentino.

A fachada neogótica deste edifício projetado, em 1923, pelo arquiteto italiano Michelangelo Soá foi recuperada, assim como se manteve o nome do mais famoso antigo café da cidade desde 1930, o Café Monumental. Já os interiores do hotel foram reabilitados para albergar a nova função, elegendo os estilos Art Nouveau e Art Déco, entre peças revivalistas e de época, numa obra de arquitetura de interiores e de decoração levada a cabo pela dupla da Oito em Ponto (o português Artur Miranda e o francês Jacques Bec).


Aicónica Burberry, no edifício onde outrora funcionava o centenário jornal O Comércio do Porto - Foto: Carlos Costa


Mais abaixo, no edifício Aliados 107, construído e projetado pelos arquitetos Rogério de Azevedo e Baltazar de Castro, em 1930 – onde funcionou o histórico jornal O Comércio do Porto (1854-2005), o segundo mais antigo português a seguir ao Açoriano Oriental –, estão a Boutique dos Relógios Plus, Burberry e Tod's (as duas últimas, do grupo Brodheim, líder no setor de retalho de moda em Portugal e com mais de 70 anos de história).

A Boutique dos Relógios Plus reúne marcas como a Blancpain, Breguet, Bvlgari, Cartier, IWC Schaffhausen e Omega, com modelos de edição limitada. Na loja, os clientes têm acesso livre a um bar onde lhes é oferecida uma seleção de queijos, doçaria e bebidas.


Boutique dos Relógios Plus, junto à Tod's e Burberry - Foto: Carlos Costa


A marca nasceu com o relojoeiro polaco David Jaime Kolinski que, no início dos anos 30 do século XX, veio trabalhar para Lisboa. Mais tarde, montou o primeiro escritório, passando a ser ao mesmo tempo importador, vendedor, administrativo e relojoeiro. Em 1977, após a morte do pai, Salomão Kolinski, assume a direção da empresa aos 18 anos, recorrendo pela primeira vez a ações publicitárias para promoção das suas marcas. A partir de meados dos anos 80, o Grupo Kolinski reforça a posição no mercado, começando a representar outras marcas, nomeadamente a Balmain, Gucci e Longines e, posteriormente, a Omega, Rado, Swatch e Tissot do Swatch Group SMH. A primeira loja experimental da cadeia Boutique dos Relógios abriu, em 1997, no Centro Comercial Colombo de Lisboa.

Por sua vez, a Burberry, fundada em 1856, famosa pelos seus trench coats atemporais, elegeu uma loja de dois pisos com luz natural, inspirada no espírito e atitude da loja londrina de Regent Street e nos códigos de Riccardo Tisci, o designer italiano diretor criativo da icónica marca de luxo britânica.


A primeira Tod's inaugurada no Porto - Foto: Carlos Costa


A Tod’s, a primeira boutique a abrir no Porto, reflete a filosofia da marca italiana fundada em 1900, contando com as suas coleções femininas e masculinas de calçado e acessórios, com destaque para os gommini, os mocassins com sola de borracha icónica que constituem o grande sucesso em vendas. Espelhos prateados, vitrines de vidro com painéis de cabedal, sofás cor-de-laranja e pavimento de madeira, compõem a decoração deste espaço pleno de luz.

No final da avenida dos Aliados, encontra-se a David Rosas, marca de referência no segmento de luxo em joias e relógios, fundada em 1984. Foi no entanto o bisavô de David Rosas, Mateus dos Santos Rosas, que, ao montar uma pequena oficina em 1860, firmou o negócio da família com origens em Gondomar, terra de ourives e mestres joalheiros por excelência.


David Rosas no edifício oitocentista da antiga Casa Navarro - Foto: Carlos Costa


O edifício estilo neoclássico de seis pisos, localizado na esquina das ruas dos Clérigos e Almada, onde outrora ficava a Casa Navarro desde 1860, foi integralmente recuperado para albergar a David Rosas. Distingue na fachada, azulejos relevados ao gosto burguês do século XIX – introduzido por brasileiros de torna viagem –, e varandas de ferro forjado pintadas a verde. Para além das marcas próprias de joalharia, com tradição seguida por cinco gerações, a David Rosas trabalha com referências como a Chaumet, Chopard, Panerai, Rolex e Vacheron Constantin.

Apesar da imponência do edifício oitocentista, com uma área avantajada, a sede da David Rosas mantêm-se no n.º 1471 da avenida da Boavista (loja n.º 9), contando a família Rosas com outro edifício para reabilitar na avenida dos Aliados, com nove pisos acima do solo, e um abaixo do solo. 


Ourivesaria Alcino, no Intercontinental, antigo Palácio das Cardosas - Foto: Carlos Costa


Sensivelmente em frente da David Rosas fica o Intercontinental que, em 2011, ocupou o Palácio das Cardosas, com fachada neoclássica (1790) – originalmente Convento dos Lóios que lançou a primeira pedra em 1491, reconvertido mais tarde em palácio no século XIX –, o qual fica no lado oposto à Câmara Municipal. O hotel conta com dois pequenos espaços, o da ourivesaria Alcino, fundada em 1902, e o da relojoaria Marcolino criada em 1926. A Fashion Clinic instalou-se aí, em 2014, concentrando referências da moda internacional para homem, sendo a loja da Boavista reservada a senhoras.

Contudo, mais espaços de moda e luxo se esperam na avenida dos Aliados, contígua à praça da Liberdade, com tantos edifícios que ainda se encontram em reconstrução e reabilitação, porventura pecando por só se recuperarem as fachadas. Isto porque, os edifícios antigos, perdem valor histórico quando o seu todo é destruído. E, no Porto, como em Portugal, parece ser esta uma nova moda.
 

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