
Helena OSORIO
23 de ago. de 2021
Prada é ou "não é suficientemente boa" em ética e sustentabilidade

Helena OSORIO
23 de ago. de 2021
Uma recente investigação levada a cabo pela analista Good On You - Sustainable and Ethical Fashion Brand Ratings classifica a Prada de que "não é suficientemente boa", em termos de diversidade, equidade e inclusão, carecendo de transparência por não publicar uma lista de fornecedores ou informações sobre o trabalho forçado, igualdade de género, ou liberdade de associação, pelo que tem ainda um longo caminho a percorrer antes de ser considerada ética e sustentável.

Segundo um artigo publicado a 18 de agosto no site da Good On You, a Prada foi recentemente criticada por conceber e vender acessórios que a Internet descreveu como tendo uma "semelhança com caricaturas racistas historicamente usadas para desumanizar as pessoas afro".
Não obstante, já em 1997, Naomi Campbell marcou as passerelles como a primeira modelo afro a desfilar para a Prada. Como não faltam afro e afrodescendentes famosos (ou não) a trabalharem, a ostentarem e a identificarem-se com a marca italiana de luxo – nomeadamente, lusos como Joaquim Arnell de dupla nacionalidade portuguesa e sueca, que foi o primeiro modelo português a ser escolhido pela Prada para desfilar as coleções da marca em janeiro de 2017.
Também em contra corrente, o site FashionNetwork.com divulgou em maio deste ano que a Prada está a reforçar o seu compromisso com a diversidade, equidade e inclusão, lançando vários novos investimentos em bolsas de estudo, em programas educativos e num novo laboratório de design.
A própria marca afirma estar empenhada "na diversidade, equidade e inclusão dentro da empresa e da indústria da moda como um todo". No entanto, a classificação ambiental da Prada é: "Não é suficientemente boa". Em primeiro lugar, a Good On You diz que esta utiliza poucos materiais amigos do ambiente. Em segundo lugar, não há provas de que minimize os resíduos têxteis ou que implemente iniciativas de redução da água. E finalmente, não há provas de que tenha tomado medidas significativas para eliminar substâncias químicas perigosas.
No que respeita a condições laborais, a Prada também "não é suficientemente boa" para a Good On You. Isto porque a maior parte da fase final de produção da Prada é realizada em Itália, um país de risco médio para o abuso laboral. Ainda assim, a marca carece de transparência uma vez que não publica uma lista de fornecedores ou informações sobre trabalho forçado, igualdade de género, ou liberdade de associação.
A analista Good On You também não encontrou provas de que a Prada assegure o pagamento de um salário vivo na sua cadeia de fornecimento, nem tem políticas ou salvaguardas adequadas para proteger os fornecedores e trabalhadores da sua cadeia de fornecimento dos impactos da doença de COVID-19.

Como se não bastasse, a Prada usa couro, lã, penugem, angorá, pele e pêlo de animais exóticos, não havendo provas de que a marca siga uma política para minimizar o sofrimento dos animais. A Prada comprometeu-se a eliminar a pele e o pêlo, o que segundo a analista não é suficiente para lhe dar uma classificação superior a “muito pobre” para o bem-estar animal.
Além disso, a sua coleção de moda masculina para o próximo outono-inverno – lançada na Semana da Moda Masculina de Milão no início de 2021 – propõe o “long john” para todas as ocasiões – a roupa íntima longa masculina de antigamente – e utiliza peles.
Eticamente e com base na própria investigação, a Good On You insiste em classificar a Prada de como “não é suficientemente boa”. A marca milanesa de artigos de couro de luxo – fundada em 1913, por Mario Prada, e relançada em 1978 pela neta Muccia Prada (também fundadora da subsidiária Miu Miu) que a tornou uma das marcas de moda mais icónicas – parece mesmo ter ainda um longo caminho a percorrer antes de ser definitivamente considerada ética e sustentável.
Segundo a Good On You, a Prada precisa de utilizar materiais mais ecológicos e reduzir a utilização de produtos químicos perigosos e água. Também necessita de divulgar mais informação sobre as práticas e de pagar aos trabalhadores um salário vivo.
Quase por ironia, a Prada foi citada em 2003 na obra norte-americana, O Diabo Veste Prada, tanto no título do livro best-seller escrito por Lauren Weisberger, como nas roupas usadas por cada personagem na versão adaptada a cinema, em 2006, por David Frankel. Talvez algo a repensar porque os looks do filme privilegiam as peles e mais tratando-se de uma história real, vivida pela própria Lauren Weisberger quando trabalhou na Vogue sob as ordens da implacável Anna Wintour.
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