Preço do algodão aumentou 47% num ano
Com o início de uma nova colheita, o algodão atingiu um pico de 0,96 cêntimos por libra (1,12 euros) no dia 23 de agosto. Isto representa um aumento de 47,7% em comparação com o nível muito baixo observado no início de setembro de 2020. O aumento natural que acompanhou o relançamento da produção asiática no final de 2020 foi agora acelerado pela retoma das encomendas, mas também pela crise persistente dos fretes e pelo boicote ao algodão relacionado com os uigures (muçulmanos que habitam predominantemente a região autónoma de Xinjiang, no noroeste da China).

O aumento ocorre num momento em que os analistas do U.S. Department of Agriculture (USDA) esperam um consumo global de 123,3 milhões de fardos para a colheita que teve início em agosto de 2021 e vai até ao final de julho de 2022. Este nível foi alcançado apenas três vezes, segundo os registos. A China, Índia e Paquistão seriam os principais clientes do material durante o próximo período.
Um período no qual a produção deve, por sua vez, apresentar níveis estáveis, com 118,8 milhões de fardos que seriam produzidos na colheita de 2021 / 2022. Como esperado, a Índia, China e EUA serão os principais fornecedores globais, acumulando sozinhos 60% da quantidade esperada.
Pela segunda colheita consecutiva, a procura vai superar a produção, o que teoricamente reduzirá os stocks mundiais para 87,2 milhões de fardos, 5% a menos num ano e, sobretudo, o menor nível dos últimos três anos.
Essa situação, é claro, tem consequências sobre os preços. Especialmente num momento em que a procura global por produtos de algodão, principalmente vestuário, está a aumentar de novo. O mercado também tem de enfrentar a crise do transporte de cargas, que multiplica por 3 ou 6 o preço do transporte entre a Ásia e o Ocidente, uma vez que os confinamentos provocaram um desequilíbrio na disponibilidade de contentores entre os principais portos do mundo.

Há outro argumento mais político, que explica a alta dos preços do algodão: muitas das principais marcas internacionais decidiram boicotar o algodão de Xinjiang, uma província da qual Pequim é acusada de aplicar trabalho forçado à minoria muçulmana uigur. Província que concentra 80% da produção chinesa de algodão, ou cerca de 20% da produção mundial. Por detrás do confronto pelos direitos humanos, o fornecimento de algodão assume, assim, o panorama de um jogo de xadrez.
Até porque a China também possui o maior stock de algodão do mundo e continua a fortalecê-lo, segundo a China Cotton Association. Durante o período de 2020 / 2021, as importações de algodão devem crescer 75% e chegar a 2,8 milhões de toneladas, diz a organização. Uma situação acompanhada de perto pela indústria, que relembra que enormes stocks chineses contribuíram para a explosão de preços há 10 anos, após desastrosas colheitas.

No entanto, os preços alcançados hoje ainda estão longe do valor de 1,97 dólares (cerca 1,24 euros), alcançado em março de 2011, durante a difícil "crise do algodão".
Essa crise, em particular, levou muitas marcas a recorrerem a materiais sintéticos, como o poliéster, ou a aumentarem os seus preços finais de venda. Aumentos de preços que, até ao momento, já parecem ser contemplados por algumas marcas, à medida que emergem da crise provocada pela pandemia de COVID-19.
Como também informou o T Jornal da ATP-Associação Têxtil e de Vestuário de Portugal, na terça-feira (7 de setembro): "301 mil milhões é o valor, em euros, das exportações mundiais de têxteis em 2020". Ao que acrescenta uma observação de La Rhea Pepper, o CEO e cofundador da Textile Exchange: "A procura por algodão orgânico tem crescido constantemente, especialmente nos últimos quatro anos".
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