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2 de out. de 2013
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Primavera-verão 2014: Londres sai do underground

Publicado em
2 de out. de 2013

A Fashion Week de Londres trouxe uma primavera-verão excepcional, alegre e inspirada, confirmando o virtuoso efeito causado pelo apoio das instituições locais embaladas pela animada Caroline Rush e pela incansável Natalie Massenet, respetivamente CEO e chairman do British Fashion Council.

Embora não seja incongruente revelar a influência de uma Chanel na Erdem, ou de uma Dior na Christopher Kane, o crescente poder verificado vai mais longe que uma simples citação e prova, mais uma vez, que a moda proposta por Londres é para ser levada a sério. Essa é também a opinião da Kering e da LVMH, novos proprietários das marcas Christopher Kane e Nicholas Kirkwood, de agora em diante um pouco menos britânicas no sentido financeiro. Mas esta energia deve provocar um efeito de emulação em toda a criação britânica e, por fim, em sua indústria. A menos que já tenha se iniciado.

Sister by Sibling e Jonathan Saunders (Fotos: PixelFormula)


Os desfiles de Christopher Kane e Jonathan Saunders foram os que mais fizeram barulho, com o primeiro apresentando sua maior coleção por último com aproximadamente 50 vestidos, e o segundo brilhando com sua aplicação de cores em materiais que podem facilmente cair nas graças do público. Uma das especialidades dos criadores londrinos continua sendo a estampa que ousa. No próximo verão em Londres, com certeza vamos conferir a ousadia. De certa forma "intelectual" com Peter Pilotto, ou mais descomplexada com Giles ou Mary Katrantzou, que fez do digital print sua marca registada. A cintilante criadora apresentou uma coleção jubilatória e equilibrada, exaltada pela obsessão número um da cliente de moda: o sapato, seu tema para a estação. Com isso, Sarah Lerfel (Colette) sorriu na primeira fila, lugar dos compradores que fazem a diferença.

Mary Katrantzou e KTZ primavera-verão (Fotos: PixelFormula)


Do catwalk ao club

Outra particularidade de Londres é seu vínculo particular com a festa, aquela para a qual nos vestimos sem complexo, à moda inglesa. Aliás, o departamento de moda do respeitado Victoria & Albert Museum dedica neste momento uma exposição da influência do clubbing nos designers dos anos 80, batizada "Club to Catwalk". Trinta anos mais tarde em Londres, pode-se ir diretamente do catwalk ao club.

Festiva, despojada e mestiça, a moda do criador Ashish incorpora muito bem a tendência com seus logos Coca Cola e Marks & Spencer bordados com luxuosas lantejoulas, sua marca registada. O denim brilha, o ambiente é grunge e as referências são pop, mas os preços estão na casa dos quatro dígitos, pois tudo é feito à mão e isso se vê. O desfile foi preparado pela jovem estilista Anna Treveylan, um talento de cabelos fluorescentes a ser acompanhado, a qual obteve experiência em estilismo com Nicola Formichetti.

Ainda na categoria "club kids", é impossível ignorar a etiqueta KTZ, lançada há oito anos pelas lojas Kokon To Zai e em pleno boom comercial. A grife apresentou uma coleção cheia de ideias, fiel a seus códigos, mestiça, futurista e maximalista. Mais surpreendente e não menos revelador, estampas florais apareceram. Uma surpresa para a KTZ, geralmente mais dark e adulada por diversas gerações de artistas, de Björk a Rhianna, passando pela jovem pop-star nipônica Mademoiselle Yulia, que foi objeto de um co-branding com a KTZ no Japão, onde a marca segue muito forte. Seu fundador e diretor artístico, Marjan Pejoski, foi DJ antes de entrar para o mundo a moda.

Ashish, sob a influência da estilista Anna Treveylan (Fotos: PixelFormula)


"Nós estamos absolutamente pobres em matéria de jovem criação, testemunha a consultora inglesa Mandi Lennard, se bem que, assim que um talento emerge, uma nova geração chega bem atrás, acrescenta, ajustando sua casquete com as unhas inteiramente pintadas com logos Nike (um cliente). Como nenhum outro lugar na Terra, continua, Londres tem a particularidade de ser tão excitante para a moda underground quanto para seus criadores já estabelecidos".

Algumas tendências são reconfirmadas por mais uma estação, como o branco e o preto, isolados ou mesclados, em materiais texturizados quase sempre translúcidos. O brocado é revisitado de forma generosa com Kane, Erdem, Simone Rocha e ainda Jonathan Saunders, eleito revelação menswear no último oscar da moda britânica, depois de cinco coleções apenas masculinas. Há dez anos, seu womenswear, sutilmente desenhado para o próximo verão, impressiona.

As sedas são (ainda) muito transparentes, inclusive nas saias, tanto entre os criadores estabelecidos como entre os mais jovens. A lã também, como se vê com Sister by Sibling, especialista em knitwear. O desfile deste trio de East London, finalistas europeus e favoritos no atual concurso do Woolmark Prize, trouxe uma resposta arrebatadora e sorridente ao estilo Sonia Rykiel, anos 90, outra forte tendência revisitada para o próximo verão.

Christopher Kane et Burberry (Fotos: PixelFormula)


Quando os próprios materiais não brincam com a transparência, eles se apresentam com falhas, como na série de vestidos Christopher Kane, com grandes pétalas vazadas, ou aplicadas na altura dos bolsos com Simone Rocha. A cor estava, é claro, de saída, com a nova chegada de tons pastel, metálicos e opalescentes, ou, às vezes, irradiantes como os fluorescentes de Roksanda Ilincic. A criadora preferida de Samantha Cameron – esposa do primeiro ministro – apresentou nesta estação os serviços da Inglesa Venetia Scott, fiel braço direito criativo de Marc Jacobs e especialista em croquis, muito requisitada por marcas de luxo. Um forte sinal com resultado convincente.

Também entre os mais cortejados da estação em Londres, a proposta de Simone Rocha, filha do criador irlandês nascido em Hong Kong, John Rocha. "Nós realmente temos nossa Comme des Garçons", aclamava Mandi Lenard com relação a uma atitude streetwear dos anos 90. A jovem "superdotada", nascida em 1986, faz parte de nomes que seria melhor não classificar mais como "emergentes".

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