Renascimento da Semana da Alta Costura em Paris
Com ou sem pandemia, a Semana da Alta Costura de Paris – a expressão máxima do luxo da moda – arrancou segunda-feira (25 de janeiro) na Internet. Cerca de 30 marcas vão disputar a atenção das mulheres mais bem vestidas do mundo, numa edição inteiramente digital.

A Paris Fashion Week está assim de volta, de segunda-feira (25) a quinta-feira (28), para os estilistas apresentarem as suas coleções femininas de alta costura idealizadas para a estação de primavera-verão 2021. E apesar daqueles que preveem ano após ano a morte iminente da alta costura, a programação oficial de quatro dias do evento inclui uma grande variedade de marcas de luxo e de novos talentos tão empolgantes quanto inesperados.
A Semana da Alta Costura de Paris que teve início segunda-feira (25), às 10 horas, com a maison italiana Schiaparelli – fundada por Elsa Schiaparelli em 1927 – vai encerrar quinta-feira (28), às 16 horas, com a estreia do artista de dupla nacionalidade americana e holandesa, Sterling Ruby, natural de Bitburg (Alemanha), que vive e trabalha atualmente em Los Angeles. A temporada inclui gigantes do luxo como a Chanel, Christian Dior, Giorgio Armani e Valentino, mas também marcas mais sofisticadas, como a Charles de Vilmorin, Alexandre Vauthier e Julie de Libran.
Existem ainda dois eventos muito aguardados pela imprensa: a estreia de Kim Jones na Fendi, marca romana especializada em pele, e a mostra da AZ Factory, que regista o retorno à moda de Alber Elbaz, ex-estilista da Lanvin. Para cumprir as medidas sanitárias em vigor, que proíbem qualquer reunião em Paris, a temporada acontecerá exclusivamente online, mesmo com algumas marcas a organizarem apresentações figitais. O desfile da Armani, por exemplo, será realizado à porta fechada no Palazzo Orsini, uma das mansões do estilista em Milão.

Há 10 anos, apenas cerca de 20 marcas apresentavam as suas coleções durante esta temporada, que durava três dias, o que atesta a vitalidade renovada da alta costura, segundo Ralph Toledano, presidente da Fédération de la Haute Couture et de la Mode (FHCM), órgão regulador da moda francesa, que controla o acesso ao calendário oficial das seis temporadas de desfiles em Paris.
“Existem vários fatores que explicam a força atual da alta costura. Primeiramente, com o surgimento das novas grandes economias, da Rússia à China, há muito mais clientes potenciais e pessoas ricas do que há 10 anos", analisa Ralph Toledano.

“O segundo fator é que para as grandes marcas francesas, como a Chanel ou Dior, ter uma grande divisão de alta costura é muito importante em termos de estratégia geral, o facto é que as suas atividades de alta costura cresceram muito. Estas duas maisons, entre outras, têm vindo a contratar muitas pessoas desde há 10 anos. E estão a ganhar dinheiro, ao passo que, a dado momento, a alta costura se tornou uma espécie de exercício de marketing”.
O terceiro fator data de, há mais de 25 anos, quando as leis que regulavam o número de funcionários e o tamanho das oficinas de costura foram radicalmente revistas e facilitadas, sob a liderança de Dominique Strauss-Kahn, então Ministro da Economia, Finanças e Indústria. Uma reforma que permitiu a entrada no mercado de várias marcas jovens com recursos financeiros modestos.

“Essas regras não sofreram alterações, desde 1945. E as mudanças reduziram, consideravelmente, os obstáculos para as marcas que querem entrar para o calendário oficial”, refere ainda o presidente da FHCM.
Nesta temporada, duas marcas estarão ausentes: a britânica Ralph & Russo e Elie Saab, do estilista libanês homónimo que não pôde gravar o vídeo da sua coleção devido à pandemia, uma vez que o impacto da crise de saúde está a manifestar-se particularmente forte no Líbano.
Mas outras marcas estão a intensificar o seu compromisso com a alta costura. Como a Fendi, uma empresa centenária que só organizou o primeiro desfile de alta costura em 2015, quando Karl Lagerfeld dirigia o seu estúdio criativo. Até o momento, a Fendi só tem apresentado a coleção de alta costura uma vez por ano, em julho. Agora, sob a direção do designer Kim Jones, recentemente nomeado diretor criativo, a marca romana também vai apresentar uma coleção em janeiro.
A entrada oficial na alta costura é uma estrada sinuosa, que requer a aprovação prévia de um comité da FHCM formado por executivos de marcas conceituadas e especialistas em moda. Mas, nas últimas duas décadas, esse círculo restrito foi ampliado para incluir talentos estrangeiros, desde o modernismo clássico da Armani à vanguarda da designer holandesa Iris van Herpen, e a marcas mais conceituais como Maison Margiela ou Aganovich.
“Para entrar no calendário é importante que o jovem candidato demonstre a capacidade de se tornar um grande costureiro. Qual estilista não gostaria de se aventurar na alta costura se tivesse a oportunidade? Trabalhamos com os melhores artesãos do mundo, com os melhores tecidos e temos carta branca, porque a alta costura é o laboratório da moda. O que mais podemos esperar?”, conclui Ralph Toledano.
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