Helena OSORIO
7 de set. de 2020
Sandra Poulson finalista do Prémio Mullen Lowe Nova Awards 2020
Helena OSORIO
7 de set. de 2020
Sandra Poulson estudou Design de Moda na Faculdade de Arquitetura da Universidade Técnica de Lisboa e no London College of Fashion. Por fim, concluiu a licenciatura em maio passado, na Central Saint Martins, faculdade londrina de artes e design de renome mundial, onde foi recentemente distinguida.
Integra os 14 finalistas do Mullen Lowe Nova Awards 2020, selecionados de uma lista final de 46, apurados num total de 1.300 alunos recém-formados na renomada instituição universitária do Reino Unido.
Como explica, numa entrevista emitida pela LAC (Luanda Antena Comercial): “Eu fui selecionada para estar na lista final de 14 alunos habilitados a ganharem o prémio. Sou a única angolana num programa de moda e sou uma das três pessoas angolanas de todos os cursos da faculdade inteira”.
“Fui nomeada para três prémios com o meu projeto que se chama An Angolan Archive (Um Arquivo Angolano), com interesse em questões históricas e contemporâneas da nossa sociedade, cultura e vida: Um deles para fazer parte da coleção do museu da universidade, o outro é um prémio de sustentabilidade e, este, de inovação e relevância”, reforça. “É uma sensação interessante, especialmente por ser um projeto que foi terminado depois do Covid ter começado e de ficar a trabalhar em casa, a criar tudo. É interessante e muito gratificante saber que há mais pessoas que valorizam aquilo em que tenho vindo a trabalhar e que têm interesse na nossa cultura e na nossa vida e em como podemos continuar a progredir”.
Sandra Poulson considera assim, o seu trabalho, uma peça de arquivo de informação, explorada a partir de documentos, artefactos, vestuário, momentos, manchetes, tradição oral e dados históricos que definem a paisagem sociocultural, económica, política, étnica e cultural de Angola.
“Uma questão que se coloca muito: Porque é que o projeto é todo verde, porque é que todos os artefactos e todas as peças são verdes. Na verdade, é uma história muito relacionada com a vivência: Depois de ter saído de Luanda, em 2013, e de voltar a Luanda e saber que estou em casa quando saio do avião e respiro a poeira. É um bocado a ideia de criar um espaço artificial (quase), que é um espaço verde, compensando os espaços verdes de Luanda que acho precisamos muito de criar. E, este, é então esse espaço artificial em que se pode respirar fundo e se pode deixar a poeira baixar”.
O arquivo criado por Sandra Poulson engloba cerca de 200 suportes de informação, como sejam textos escritos, imagens de pesquisa, vestuário, gravações de voz, desenhos, artefactos de madeira, instalação, fotografia, performance e trabalhos em vídeo.
Trata-se de um projeto ainda em curso que utiliza uma seleção de artigos angolanos para discutir a relação entre a família e a memória social herdada da Angola colonial e da guerra civil. Tem por objetivo desmantelar a Angola contemporânea, através de estudos semióticos de objectos, sobretudo numa perspectiva de cultura material.
Melhor dizendo, Um Arquivo Angolano, colonial em perspectiva, onde a tarefa da descolonialidade (ou decolonialism) é central, uma vez que a noção de arquivos próprios liderados por africanos ainda está por confrontar a realidade de arquivos construídos por organismos externos – como informa, igualmente, a página dedicada à designer, disponível em https://www.mullenlowenova.com/artist/sandra-poulson/
“Este projeto começou com uma viagem de investigação a Luanda, a minha cidade natal, onde passei um mês a captar e a envolver-me com a vida quotidiana, entre assentamentos informais, até à análise do centro de Luanda. Documentei-me com cerca de 3.000 peças de informação através de fotografia, vídeo e gravações de voz”, disse ainda.
O projeto evoluiu para o desenvolvimento de protótipos e fabrico de artefactos, utilizando madeira, metais fundidos, desenho, serigrafia. “Quando Londres entrou em isolamento, contemplei a utilização do espaço do telhado de um apartamento ao lado do local onde vivo. Tive a coragem de o ocupar como meu estúdio, meio e (até certo ponto) sujeito. Conheci os proprietários e, mais tarde, os trabalhadores da construção que estavam a remodelar o apartamento, ao lado, iniciando uma ocupação autoliderada do telhado, durante oito semanas, que talvez se tenha tornado o verdadeiro trabalho”.
Segundo o colombiano José Miguel Sokoloff, presidente do Conselho Criativo Global do MullenLowe Group, co-presidente e diretor criativo do MullenLowe Group UK: “Perante alguns desafios reais, este ano, os alunos criaram um trabalho que é um tributo a eles mesmos e à humanidade”.
“A lista é representativa disso e é um testemunho de como essas mentes jovens e brilhantes irão moldar a forma como vivemos neste mundo em constante mudança”, acrescentou Sokoloff, na página oficial da organização do prémio.
Os trabalhos selecionados podem ser apreciados no site da organização https://www.mullenlowenova.com. O estudante com mais votos levará para casa um prémio de £1,000, para apoiar a sua pós-graduação prática. Pela primeira vez, os vencedores serão anunciados numa cerimónia online, esta quinta-feira (10 de setembro).
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