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11 de dez. de 2019
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Setor da moda e do vestuário debate sustentabilidade no Porto

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11 de dez. de 2019

Organizada pelo CENIT (Centro de Inteligência Têxtil) em parceria com a ANIVEC (Associação Nacional das Indústrias de Vestuário e Confecção), a ModaLisboa e o salão alemão Neonyt, a conferência Sustainability Talks reuniu na Alfândega do Porto, no dia 5 de dezembro, players nacionais e internacionais da indústria da moda e do vestuário, que falaram sobre o futuro do setor no que diz respeito à sustentabilidade.


Luís Hall Figueiredo, presidente do CENIT - Fotografia: EA - FashionNework.com


Dividida em quatro sessões - “Sustainability Talks Powered by Neonyt”, “Sustentabilidade: A Visão do Retalho”, “Sustentabilidade em Portugal: Experiências da Indústria” e “Sustentabilidade e Criação de Valor no Longo Prazo” -, a conferência internacional permitiu a partilha de diferentes perspetivas sobre o tema da sustentabilidade, seja do ponto de vista das empresas têxteis, dos designers, dos retalhistas ou das associações do setor.
 
Luís Hall Figueiredo, presidente do CENIT, abriu a sessão recordando a importância deste tema no panorama atual. Sublinhando que “as alterações climáticas não podem ser ignoradas por ninguém”, o líder do CENIT lembrou que a sustentabilidade “é hoje uma preocupação e um tema central da nossa sociedade”.

O primeiro painel, moderado por Max Gilgenmann, diretor de conteúdos do Neonyt, levou à Alfândega intervenientes internacionais de diferentes contextos. Rachel Zeininger, do grupo Facit Research GmbH & Co., falou sobre os resultados do estudo Neonyt Consumers Study 2019, feito junto de consumidores alemães, convidados a avaliar mais de 30 marcas no que diz respeito à sustentabilidade. Lembrando que a sustentabilidade é um dos aspetos que influenciam a decisão de compra do consumidor, Zeininger sublinhou a importância de bem comunicar as iniciativas neste domínio. Hess Natur, Freitag e Patagonia foram consideradas pelos consumidores alemães as marcas mais sustentáveis, enquanto a H&M figurou no final da tabela.
 
Já Claudia Hoffmann, cofundadora do Fashion Council Germany, aproveitou a sua intervenção para falar sobre o German Sustain Concept, o programa do FCG que apoia quatro jovens talentos do design sustentável no que diz respeito a áreas tão distintas como sourcing, comunicação ou marketing, para que possam vingar no mercado. 
Já a perspetiva do criativo foi dada por Ali Azimi, fundador da marca Kind of Blau, que conduziu os presentes no processo de criação da marca de vestuário, que apostou optou por não recorrer ao algodão como matéria prima, optando sim pelo uso da fibra modal, numa tentativa de lutar contra a questão dos resíduos libertados na água pela indústria do vestuário, sobretudo no sudoeste asiático. O objetivo, explicou, é preservar os recursos naturais do planeta, especialmente a água.
 
O primeiro painel foi fechado por Ricardo Garay, coordenador internacional de projeto na empresa Circular Systems, que se dedica ao desenvolvimento de tecnologias circulares e regenerativas que transformam o desperdício em produtos têxteis através das plataformas Agraloop, Texloop e Orbital.


Max Gilgenmann (ao centro), moderador do primeiro painel da conferência, rodeado por Rachel Zeininger, Claudia Hoffmann, Ali Azimi e Ricardo Garay (da esquerda para a direita) - Fotografia: EA - FashionNetwork.com


Depois de um segundo painel sobre a visão do retalho, protagonizado por Manuel  Manuel Lopez Tocci, diretor de sourcing do El Corte Inglés, que recordou que“a sustentabilidade é e vai ser cada vez mais uma exigência dos mercados” e apresentou as medidas que têm vindo a ser tomadas pela empresa no que diz respeito a esta temática, foi tempo de dar voz a quatro empresas têxteis portuguesas.
 
Manuel Lopes Teixeira, da estratégia ModaPortugal, moderador deste painel, lembrou que, atualmente, se vive “um momento de profunda mudança”. Numa indústria,que, sublinhou o moderador, “nos últimos 25 anos se formatou para ser um grande operador de fast fashion”, há já vários exemplos de empresas que estão a adaptar o seu modelo de negócio às novas exigências do mercado e do consumidor em matéria de sustentabilidade.
 
São disso exemplo as quatro empresas presentes na conferência, que deram a conhecer diferentes iniciativas para acompanharem esta mudança. Ana Tavares, diretora de sustentabilidade da empresa de malhas Tintex, lembrou os três grandes projetos da empresa neste domínio: Picasso (tingimento natural), Texboost e Texbion, todos focados no desenvolvimento. “Tentamos juntar inovação, design e criatividade para todos os dias conseguirmos entregar a necessidade do nosso cliente e do nosso consumidor”, sublinhou.  
 
Já Daniel Mota Pinto, da Scoop, cujo core business é o vestuário técnico para desporto, falou nomeadamente sobre o projeto de cariz social Blue Soul, assente na recolha de peças em denim usadas, que são posteriormente transformadas em peças de luxo. A reciclagem é também o mote do projeto Valérius 360, apresentado por Patrícia Ferreira, business developer da Valérius, durante a sua intervenção, na qual explicou a iniciativa de economia circular da empresa. Isabel Domingues, responsável pelo departamento de sustentabilidade da Riopele, partilhou poe sua vez as iniciativas da empresa, que passam nomeadamente pela reciclagem do poliéster, a matéria-prima que mais utiliza, e pelas condições dos trabalhadores.
 

Braz Costa, diretor-geral do CITEVE - Fotografia: EA - FashionNetwork.com


Notando que estas quatro empresas “são um bom espelho do que é o mindset nacional” nesta temática, Braz Costa, diretor-geral do CITEVE (Centro Tecnológico das Industrias Têxtil e do Vestuário de Portugal) fechou o painel sublinhando a importância da transparência e da rastreabilidade, eixos cada vez mais exigidos pelos consumidores. Notando que, atualmente, “menos de 5% das peças em fim de vida são recicladas”, o responsável lembra que, de forma a facilitar a reciclagem,
“os materiais futuros têm que ser pensados para a reciclagem”, algo que não aconteceu com os que são utilizados atualmente. Braz Costa aproveitou ainda para sublinhar que “a indústria está a reciclar a maior parte dos seus desperdícios industriais”, sendo que “os consumidores é que ainda não estão a fazer a sua parte”.
 
A conferência deu por fim voz a Luís Palma da Graça, da Vallis Capital Partners, que apresentou a perspetiva do acionista, notando que “a sustentabilidade é absolutamente central nas decisões” tomadas pela empresa, e César Araújo, presidente da ANIVEC fechou os trabalhos realçando que “a sustentabilidade ambiental já não é uma questão de opção ou de oportunidade para a indústria da moda”. Trata-se, garantiu o responsável, “de uma realidade incontornável para quem queira fazer negócios no mercado global, em que cada vez mais as opções de compra são ditadas pela consciência ambiental dos consumidores”.  

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