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Portugal Textil
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7 de nov. de 2018
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Sourcing sob alta tensão

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Portugal Textil
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7 de nov. de 2018

Surgiram mais detalhes sobre o desfasamento entre as práticas de compra de marcas de vestuário e retalhistas e as consequências para os fornecedores. A pressão para reduzir custos permanece a culpada por aumentar o risco de rutura e catástrofes ambientais e humanas.


Mais de 55% dos fornecedores foram afetados pela alta pressão das estratégias de negociação de custos, segundo o recente estudo “Better Buying Purchasing Practices Index (BBPPI) Fall 2018” divulgado pelo just-style.com, o que representa um aumento em relação ao último relatório trimestral, lançado na passada primavera. Isto abrange o não pagamento de amostras (61,4%), os atrasos nos pagamentos (apenas 64,5% dos retalhistas e marcas pagaram grandes encomendas dentro dos calendários previstos) ou o não pagamento do preço total indicado na nota de encomenda (27,3%). Outras táticas incluem exigir que o nível de preços se mantenha de ano para ano, sem consideração pela inflação; o estratagema “pegar ou largar”, onde ou se aceita o preço definido pela marca ou retalhista ou se perde a encomenda e, por último, a comparação de fornecedores apenas com base no preço, desconsiderando a sua diversidade e diferenciação.

A iniciativa “Better Buying”, apoiada pela C&A Foundation e pela Humanity United, monitoriza e divulga os desempenhos e as análises sobre práticas de compra, permitindo que as tendências sejam conhecidas, o que proporciona aos compradores práticas úteis, para ajudar a melhorar a sua performance.

O mais recente relatório, com base nos dados recolhidos entre maio e agosto de 2018, revela que mais de 20% dos fornecedores indicaram ainda que menos de 80% dos pedidos recebidos de retalhistas ou marcas apresentavam preços que cobriam os requisitos sociais, ambientais, de qualidade e outros.

Um terço dos fornecedores (27,3%) afirma que os clientes não pagaram o preço total indicado na nota de encomenda. Além disso, quase 10% dos fornecedores referem que menos de 20% dos pedidos de compra dos seus clientes foram pagos na totalidade. Os fornecedores adiantam que as razões mais comuns apresentadas para o não pagamento na totalidade foram os atrasos ou reclamações, sem fundamentação, de defeitos de qualidade do produto. Outras razões incluem a obrigação de contribuir para a abertura de uma nova loja, a remodelação de uma loja existente ou o lançamento de uma nova marca.

Em suma, o relatório conclui que quanta mais pressão as marcas e os retalhistas colocam na negociação dos preços, maior é a probabilidade de o preço não cobrir todo o custo. Tal mostra a necessidade dos retalhistas e das marcas de garantirem que o processo de negociação promove parcerias justas e sustentáveis.

O relatório também apela aos retalhistas e às marcas que «parem de se focar na redução de custos sem considerar as implicações que estas têm para os fornecedores». Uma pressão financeira crescente nos fornecedores aumenta o risco de insucesso empresarial, rutura no aprovisionamento e catástrofes ambientais e humanas, afirmam os autores, sublinhando que «será impossível fazer melhorias tangíveis em salários ou condições de trabalho se os retalhistas e as marcas não reduzirem a pressão financeira colocada nos fornecedores».

Diferenças regionais nas práticas de compra

Duas das categorias analisadas pelo estudo foram o planeamento e projeções e o aprovisionamento e realização do pedido, que analisa dados relacionados com a capacidade do fornecedor alocar convenientemente os recursos humanos, definir custos adequados e entregar os produtos atempadamente.

Estas tarefas dependem fortemente da precisão dos retalhistas e das marcas de prever a repartição dos pedidos ao longo de todo o ano. O relatório mostra uma diferença significativa entre as práticas europeias e norte-americanas. Neste documento, refere-se que os retalhistas norte-americanos preveem com mais consistência a forma como os pedidos são distribuídos comparativamente aos europeus, o que reforça a capacidade dos fornecedores planearem a produção. Além disso, os retalhistas e marcas europeias fornecem as previsões mais tarde do que os homólogos norte-americanos. Quase 37% dos compradores norte-americanos apresentam as previsões 120 ou mais dias antes da realização dos pedidos, comparados com cerca de 17% dos compradores da Europa. A percentagem de retalhistas e marcas que forneceram as previsões com apenas 29 dias (ou menos) antes da realização dos pedidos foi muito maior entre os europeus (11,9%) face aos norte-americanos (6,6%).

Uma parceria sustentável win-win

O índex global mede as performances dos compradores em sete categorias-chave: planeamento e previsão, design e desenvolvimento, custo e negociação do custo, aprovisionamento e realização de pedidos, pagamento e termos, gestão do processo de compra e parceria sustentável win-win (previamente designada CRS – Corporate Social Responsibility).

O novo nome desta última categoria para as classificações do segundo trimestre de 2018 inclui uma nova questão, que interroga o comprador acerca das expetativas mínimas definidas no cumprimento dos requisitos da CSR para a produção dos seus artigos. Não sem alguma preocupação, o estudo indica que 9,1% dos retalhistas ou marcas não o fizeram. «Isto coloca grandes riscos para os retalhistas, para as marcas, para os fornecedores e para os trabalhadores que fazem as nossas roupas, aos quais deveria ser fornecido imediatamente um programa com as devidas diligências, tal como delineado no “Office of Economic Cooperation and Development’s Due Diligence Guidance for Responsible Supply Chains in the Garment and Footwear Sector”», assegura o relatório.

Ações para mudar as práticas de compra

Os primeiros dois relatórios da Better Buying mostram que são necessárias vastas ações na indústria para transformar as práticas de compra e que as classificações são uma ferramenta valiosa para otimizar a performance dos negócios e reduzir os riscos na cadeia de aprovisionamento.

«A partir destes resultados, os retalhistas e as marcas podem trabalhar no sentido de agilizar as suas operações, criar parcerias mais fortes com os fornecedores e monitorizar os seus esforços ao longo do tempo» aponta Marsha Dickson, cofundadora do Better Buying. «Na verdade, algumas marcas informaram-nos que definiram projetos de melhorias internas baseados no relatório do BBPPI. De igual modo, os fornecedores podem avaliar melhor os seus atuais e potenciais clientes, assim como os parceiros, e compreender como alocar recursos de forma mais eficaz. Os fornecedores que classificam os seus clientes ajudam a fornecer aos retalhistas e às marcas informação essencial para conduzir às melhorias necessárias ao longo do tempo», explica.

Ainda assim, para ganhar tração, mais retalhistas e marcas devem revelar as suas listas de fornecedores e convites, e mais fornecedores deviam classificar os seus clientes. De igual modo, mais compradores são encorajados a dar um feedback detalhado de como estão a usar a informação do Better Buying para melhorarem.

Os fornecedores são também incitados a dar feedback acerca das melhorias a que têm assistido nas práticas de compra dos clientes. A mais recente lista inclui a classificação de 319 fornecedores de 38 paises e mede a performance de 67 retalhistas e marcas. Estes números aumentaram em relação ao ano passado, que contou com a participação de 156 fornecedores de 25 países e incluiu 65 retalhistas e marcas.

Vinte marcas e retalhistas têm sido elogiadas por trabalharem com a Better Buying e por encorajarem os seus fornecedores a darem classificações, nomeadamente a Bestseller, onmarché, Eileen Fisher, G-Star RAW, JP Boden & Company, K-mart Stores (Australia), Mountain Equipment Co-Op, New Balance International, N Brown, Nike, O’Neill Europe, Outerstuff, Reformation, Rohan Designs, Schijvens Confectiefabriek Hilvarenbeek, Target Corporation, The White Company (UK), WE Europe, Whistles e White Stuff.

O próximo ciclo de avaliação do BBPPI arranca neste mês de novembro. Marsha Disckson partilhou alguns detalhes sobre o relatório outonal: 10% dos compradores não dão importância às condições da fábrica. O primeiro relatório revelou que relações longas entre compradores e fornecedores não correspondiam a melhores condições de compra e que cerca de 60% dos fornecedores não recebiam qualquer tipo de incentivo para cumprir com as condições de conduta de compra.

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