Estela Ataíde
7 de out. de 2019
Sustentabilidade e inovação de mãos dadas no Modtissimo
Estela Ataíde
7 de out. de 2019
Se a tendência ecológica é transversal a todos os segmentos da vida atual, na indústria têxtil e de vestuário, a “onda ecológica” tem crescido a olhos vistos nos últimos tempos, impulsionada pela incontornável necessidade de preservar recursos e por um cliente final mais informado e exigente. Depois de duas edições, em outubro passado e fevereiro deste ano, nas quais a sustentabilidade já esteve em destaque, a 2 e 3 de outubro o Modtissimo regressou à Alfândega do Porto com uma edição mais verde do que nunca, onde a indústria nacional provou aos profissionais do setor que está preparada e pronta para responder a esta macro tendência.
Numa edição que atraiu mais 15% de compradores estrangeiros, essencialmente vindos de França, Holanda, Espanha e Rússia, e com lotação esgotada em termos de expositores, os profissionais tiveram oportunidade de conhecer mais de 400 novas coleções de fabricantes de tecidos e acessórios e de produtores de vestuário de adulto e criança.
“O grande acontecimento desta edição foi a verificação da forma como a indústria têxtil está preparada para responder a esta nova macro tendência”, partilhou Manuel Serrão, CEO da Associação Selectiva Moda, que organiza o salão, referindo-se à vaga sustentável. “Eram muito os expositores que anunciavam nos seus stands o facto de terem produtos preparados para os compradores com essas preocupações”, sublinhou.
Entre estes estava a Dune Blue, que desenvolve e comercializa meias para homem e senhora. Com 98% da sua produção destinada à exportação e mais de 70% da produção feita em Portugal, sempre em outsourcing, a Dune Blue está em toda a Europa com a sua marca própria, além de começar a dar os primeiros passos em novos mercados como Canadá, Estados Unidos, África do Sul ou Qatar. Sublinhando que “o cliente final está atento e é sensível”, Ricardo Faria, CEO da Dune Blue, acredita que as opções sustentáveis vão “revolucionar os têxteis”. Preparando-se para isso, a empresa apresentou no Modtissimo uma nova linha de meias sustentáveis, feitas com plástico reciclado retirado do oceano.
É precisamente com este mesmo recurso que é produzida a grande novidade apresentada pela Kiddy Tex no salão: as malhas feitas a partir de poliéster das garrafas recolhidas no fundo do oceano, pelas quais a empresa registou “um grande interesse”, partilha Isabel Ribeiro, designer da empresa de vestuário para bebé, que produz sobretudo private label, mas também a sua marca própria Caracol, quase exclusivamente para exportação. Segundo a criativa, “os mercados lá fora procuram cada vez mais estas opções, sobretudo porque o cliente final, que é quem impõe estas tendências de mercado”, exige mais opções sustentáveis. Para dar resposta a esta demanda, a Kiddy Tex conta ainda com propostas em algodão orgânico ou 100% linho.
Lançada há quatro anos, rapidamente a marca de calçado e acessórios Marita Moreno se tornou uma referência da moda nacional em termos de abordagem sustentável. Lembrando que a marca começou com uma “perspetiva muito ética” de trabalhar com artesãos, fazer uma produção reduzida, com peças numeradas, produzindo tudo localmente e recorrendo materiais portugueses, começando depois a utilizar materiais sustentáveis, Marita Setas Ferro, chief designer, sublinha que “acima de tudo não se trata só de materiais, porque a situação social, de produção, tudo o que envolve o setor produtivo é muito importante” para a questão da sustentabilidade.
Uma filosofia partilhada pela marca de moda Pé de Chumbo, que marcou presença no Modtissimo e dentro de alguns dias apresentará a sua coleção primavera-verão 2020 no Portugal Fashion. Como explica a designer Alexandra Oliveira, a marca sempre tentou ser sustentável, não só usando tecidos “o mais sustentáveis possível”, mas também recorrendo a materiais portugueses, trabalhando com fornecedores locais ou optando pelo fabrico manual.
Mas, numa edição onde tantos expositores mostraram conseguir dar resposta às exigências “verdes” dos seus clientes, merecem também destaque as inovações apresentadas por várias empresas, sempre empenhadas em estar um passo à frente nesta corrida.
É o caso da Crafil, empresa de Famalicão especializada na produção de linhas para denim, fundada em 2004, que fornece diversas marcas nacionais e internacionais desse universo. Procurando estar na vanguarda da inovação no domínio ecológico, a Crafil apresentou-se no salão com a tecnologia Waterless, um processo de tingimento das linhas sem uso de água que a própria empresa desenvolveu. “O processo ainda é bastante manual e estamos agora a tentar desenvolvê-lo para industrializar o processo”, explica Vítor Teixeira, comercial da Crafil, lembrando que “no tingimento tradicional é necessário 1 litro de água para tingir as linhas para uma só calça”.
Entre as propostas sustentáveis que apresentou no Modtissimo encontra-se ainda a linha Denimfil, que apesar de lançada há quatro anos só recentemente tem atraído os clientes da empresa. 100% produzida a partir de garrafas de plástico usadas, a Denimfil permite que se reciclem duas garrafas de plástico de 1 litro para produzir a linha necessária para um par de calças de ganga. Vítor Teixeira explica que “o consumidor final exige cada vez mais saber a história do produto, exige cada vez mais produtos recicláveis, formas de fazer mais sustentáveis”.
Propostas que parecem ser a prova do que disse Manuel Serrão à FashionNetwork.com a propósito da sustentabilidade no universo da moda e do têxtil: “Esta tendência veio para ficar, não tenho dúvida nenhuma.”
Terminada esta edição, a organização começa agora a preparar o próximo Modtissimo. Como já vem sendo habitual, a primeira edição do ano do salão profissional voltará a acontecer no aeroporto Francisco Sá Carneiro e está agendada para 19 e 20 de fevereiro de 2020.
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