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Portugal Textil
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25 de jan. de 2022
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Trabalho está mais casual também em Portugal

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Portugal Textil
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25 de jan. de 2022

O teletrabalho alimentou o desejo dos profissionais que trabalham em escritório por um vestuário menos formal, trocando os fatos tradicionais por versões com elastano ou em malha, tanto para senhora como para homem. Uma tendência que as empresas portuguesas de têxteis estão igualmente a acompanhar.


©Lululemon


A tendência não é nova e há muito que a morte do fato clássico tem sido anunciada, mas os confinamentos provocados pela pandemia terão provocado uma aceleração na procura por vestuário com um aspeto cuidado, mas com o conforto garantido pela roupa mais casual e pelo athleisure.

A equipa de design da Lululemon reparou, no outono passado, que as executivas de Wall Street estavam a acorrer em massa à sua loja em Brookfield Place, no distrito financeiro de Nova Iorque, para comprar as calças On the Move, um modelo com a aparência de chinos, mas fabricado com o mesmo têxtil macio, com elasticidade e com capacidade de gestão de humidade que a marca usa no activewear.

Este não é, contudo, o único exemplo, garante a Fast Company, que indica que marcas, retalhistas e analistas estão a concluir que os consumidores estão a abandonar os fatos tradicionais, as blusas de seda e outras opções mais formais de vestuário de trabalho, optando por peças com aspeto cuidado e formal mas que se assemelham mais ao loungewear com que se habituaram a trabalhar durante os confinamentos.

A mudança, assegura Juliana Prather, diretora de marketing da Edited, uma empresa de análise de retalho, aconteceu ao longo das últimas décadas, tendo sido acelerada na pandemia. Os dados da empresa mostram que os consumidores compraram muitas calças de fato de treino nos últimos dois anos, enquanto outras categorias de vestuário, como fatos e vestuário de festa, registaram um decréscimo da sua popularidade. Em 2021, apesar de os confinamentos terem, na maioria dos casos, terminado, o mercado registou um aumento de 53% na oferta de calças de fato de treino em comparação com 2020 e 41% esgotaram.

«Durante anos, a história tem sido que os trabalhadores queriam estar confortáveis no trabalho. Mas depois de viver em loungewear por dois anos, a maior parte das pessoas não consegue imaginar voltar a vestuário de trabalho que seja remotamente desconfortável», sustenta Prather.

A Stitch Fix, um serviço de styling que entrega caixas de roupa a 4,2 milhões de clientes, chegou igualmente à mesma conclusão. Em outubro de 2021, os seus clientes pediram vestuário de regresso ao trabalho a uma taxa 39% superior ao que aconteceu no mesmo período de 2020. Mas o conceito de vestuário de trabalho mudou significativamente. Num inquérito a 1.000 consumidores, 45% não queriam os fatos tradicionais e 31% não queriam voltar a usar uma camisa com botões ou calças clássicas. Quase um terço dos consumidores referiu mesmo que preferia ter uma redução de 10% no salário do que ter de se vestir de forma clássica no trabalho todos os dias.


©Stitch Fix


Isso deu origem a uma nova categoria de vestuário de trabalho que dá prioridade ao conforto, mas que é, ao mesmo tempo, mais apresentável do que leggings e uma camisola com capuz, refere Loretta Choy, diretora-geral da Stitch Fix para vestuário de senhora. «As marcas estão a desenhar vestuário de trabalho com elásticos na cintura e tecidos elásticos. Os homens estão a usar polos em vez de camisas oxford e há uma tendência de blazers feitos de malha macia com o toque de sweatshirts», aponta Choy.

Portugueses em cima da tendência

Atentos e a sempre a antecipar tendências, as empresas produtoras de têxteis e vestuário em Portugal têm vindo a apostar nesta casualização da moda no que diz respeito ao vestuário de trabalho.

Na apresentação da coleção para a primavera-verão 2022, Paulo Augusto Oliveira, administrador da Paulo de Oliveira, tinha já indicado ao Portugal Têxtil que «a casualização já era uma tendência e a pandemia acelerou este processo. Mas, nós olhamos para a nossa oferta não tanto como uma coleção, mas como um conjunto de coleções e uma delas é a que chamamos “informal”, que temos feito crescer». A empresa produtora de tecidos, conhecida pela sua oferta para fatos formais, tem 50% das propostas para a estação quente deste ano pensadas para peças mais informais e casuais, sendo que as que são, aparentemente, mais formais, adaptam-se, pela estrutura ou composição, ao business casual que tem vindo a prosperar no mercado.

Para o outono-inverno 2022/2023, o conceito mantém-se para várias empresas. Na mais recente edição da Première Vision Paris, em setembro do ano passado, a Adalberto revelou uma camisa com aspeto tradicional mas produzida em malha com tecnologia easycare, que evita as rugas, uma área onde também a Marfel tem vindo a apostar, com camisas e polos em malha. Já a Brito Knitting, com ligação ao grupo Barata Garcia, mostrou malhas mais estruturadas para a produção de blazers e calças clássicas e a Penteadora lançou a linha K.N.I.T. (Knits our New and Inspired Trend). «O produto tradicional de teia e trama tem tido menor procura e o consumidor tem procurado algo diferente, que de alguma forma traga mais conforto, seja mais casual, mas sem deixar de estar elegante», explicou António Teixeira, administrador da Penteadora, ao Portugal Têxtil.

Também a Albano Morgado tem procurado responder a esta procura por artigos menos formais, com a parceria com a Duarte a mostrar que é possível usar os seus tecidos de lã em propostas mais casuais. «Os confinamentos no inverno trouxeram a ideia de que o conforto da casa pode ser complementado utilizando peças práticas, funcionais, mas, ao mesmo tempo, quentes. A lã é uma fibra natural que confere, além de conforto, uma temperatura mais agradável», indica Albano José Morgado, administrador da empresa, ao Portugal Têxtil. «Com a pandemia, todos nós criámos novos hábitos, uma nova perspetiva de vida e cabe-nos a nós, empresas, dentro da especificidade de cada um, apresentar produtos que vão ao encontro disso», conclui Albano José Morgado.

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