Publicado em
26 de ago. de 2021
Tempo de leitura
4 Minutos
Download
Fazer download do artigo
Imprimir
Text size

Trajes de papel em exposição no castelo da Foz do Douro

Publicado em
26 de ago. de 2021

Última oportunidade de visitar a mostra intitulada "Cortejo do Traje de Papel em Exposição", ligada às tradicionais Festas de São Bartolomeu da Foz do Douro, no Porto, que estará patente até domingo (29 de agosto), no Forte de São João Batista (popularmente conhecido por castelo).


Recriação de monarcas em trajes de papel expostos no antigo paço do castelo da Foz do Porto - Foto: Helena Osório


Este ano os trajes foram idealizados, seguindo a temática "amor" em tempos de pandemia que restringiram o cortejo em desfile pela marginal da Foz Velha, os quais ainda se avizinham incertos devido à evolução da doença de COVID-19 (muito embora grande parte da população já esteja vacinada em Portugal).

Retratam-se os trajes de uma elite, recreando uma corte vestida de papel com reis, rainhas, clérigos, aristocratas, cortesãos, escudeiros, que posam nos salões recuperados do antigo paço mandado construir pelo bispo D. Miguel da Sylva, humanista amigo pessoal do pintor Raffaello Sanzio e de Baldassare Castiglione que lhe dedicou a sua obra prima "Il Libro del Cortegiano" (O Cortesão) lançada em 1528.


Séquito real vestido com trajes de papel, em exposição no castelo da Foz - Foto: Helena Osório


Também pelo paço do castelo passou D. Catarina de Bragança, antes de embarcar rumo a Inglaterra, para se juntar ao rei D. Carlos II com quem casou em 1662. E, por essa ocasião, o paço sofreu uma grande remodelação. D. Catarina de Bragança levou para a corte inglesa alguns dos costumes portugueses, sendo-lhe atribuída a divulgação em Inglaterra do hábito de beber chá a meio da tarde (o Chá das Cinco ou o "Five o'Clock Tea"), o uso do garfo à mesa e o gosto pela compota de laranja (que os ingleses designam marmalade).

A figura da Rainha Santa Isabel – natural de Saragoça e consorte do rei D. Dinis (trineto do primeiro rei de Portugal, D. Afonso Henriques) – que por aqui passaria, todos os anos, e muito antes dos anteriores (entre os séculos XIII-XIV), com a respetiva embaixada carregada de tesouros que ia trocando pelo caminho de Santiago de Compostela. A sua escultura prevalece num dos Passos setecentistas da Foz Velha, na rua Alto de Vila.


Senhores feudais da nobreza de sangue (ou castelões) com trajes de papel - Foto: Helena Osório


As bênçãos de Santa Anastácia romana que protegeu as gentes da peste negra que esteve três vezes no Porto, da Idade Média ao século XIX, e nunca atingiu a Foz então vila independente. O São Miguel-O-Anjo, protetor dos viajantes por terra e por mar (ou pelo ar), eternizado na Cantareira no mais antigo farol de Portugal, e o "Anjo Mensageiro" ou "Gabriel", numa escultura em bronze de Irene Vilar, que também figura junto ao rio, a ver as embarcações a passar.

São imagens que se adivinham em cada figura e indumentária da exposição, provindas de histórias reais e imaginadas, que até hoje marcam o imaginário dos fozeiros. E, na verdade, estes traje de papel viajam da Idade Média à atualidade, contando tempos idos e retidos na memória da Foz e suas gentes, no caso mais de ilustres do que o povo que é afinal quem faz a obra e mantém vivas as tradições.


"Anjo Mensageiro" ou "Gabriel" com pose semelhante à da escultura de Irene Vilar - Foto: Helena Osório


Não se trata assim de recriar moda nacional ou internacional, mas sim moda do foro popular ligada a contos e crenças ancestrais da tradição oral (por via erudita), fazendo-se transportar ao longo dos mais de 800 anos da Paróquia da Foz do Douro, que começou por ser couto beneditino ligado ao mosteiro de Santo Tirso.

A pandemia freou este ano o cortejo que acontece impreterivelmente no último domingo de agosto onde, figurantes de todas as classes desfilam juntos pela marginal (não obstante ser a Foz tão elitista), vestidos a rigor com fatos de papel para depois se lançarem ao mar, purificando-se com o “banho santo” e imunizando-se por sete anos (como assegura a tradição que se refere mesmo ao ritual como a expulsão do diabo).

No sábado passado, o costume acabou por ser assinalado, com um desfile simbólico, para muito poucos eleitos, como autarcas e membros de associações que garantem os festejos. O desfile partiu do Forte de São Batista da Foz do Douro, onde está patente a referida mostra "Cortejo do Traje de Papel em Exposição", que ainda pode ser visitada até domingo (29 de agosto) das 14h30 às 16h30 (quinta e sexta), das 15h às 19h (sábado) e das 15h às 17h (domingo).
 

Copyright © 2024 FashionNetwork.com. Todos os direitos reservados.