Valentino Couture: Alta Costura na era da inteligência artificial

Os desfiles da Paris Fashion Week já não se realizam obrigatoriamente na capital francesa. Devido à pandemia, as temporadas de moda são agora 100% virtuais e os desfiles em formato figital podem ser realizados noutro país ou até mesmo continente.

Foi o caso da coleção de alta costura da marca italiana de luxo Valentino, apresentada na terça-feira (26 de janeiro) num sumptuoso palazzo romano, com um elenco de modelos a desfilarem pelo pavimento de mármore e pórfiro, numa sala renascentista amplamente dourada e iluminada por enormes lustres.

Uma performance artística orquestrada por Pierpaolo Piccioli – o diretor criativo de Valentino – e por Robert del Naja, artista e fundador do grupo Massive Attack. A coleção ganhou o nome de Code Temporal (Código Temporal), tendo sido encenada na barroca Galleria Colonna (ou Sala Grande) de 76 metros.

Trata-se de um dos maiores e mais antigos palácios particulares de Roma, cuja construção foi iniciada no século XIV por iniciativa da família Colonna que nele reside permanentemente há oito séculos. A família Colonna teve origem no século XII, no povoado de Colonna, nas imediações de Roma. Pertence à Aristocrazia Nera, como uma das famílias aristocráticas romanas que se aliaram ao Papado durante o período do Papa Pio IX.

A coleção – composta por capas cravejadas de marfim, casacos faille volumosos na cor fúcsia e vestidos de crepe rosa – emanava algo de místico que combinava perfeitamente com o cenário. Quanto às cores dos tecidos, estas lembravam os paramentos religiosos vistos nas grandes missas da Basílica de São Pedro.

Para acrescentar um toque de misticismo, muitas modelos usavam máscaras douradas. Várias delas vestiam um avental gigante vermelho como o pecado da Valentino, ou então uma capa rosa de abadessa, com botas cuissardes prateadas ou douradas.

Pierpaolo Piccioli aprecia particularmente de cores ousadas – combina tops turquesa – claro, sobretudos dourados com lantejoulas, jaquetas em lamé dourado ou casacos amarelo açafrão. Esta coleção claramente marcou uma nova direção para a Valentino e para Piccioli, e deu certo. Pierpaolo Piccioli ofereceu-nos desfiles excepcionais nos últimos anos, embora começassem a ser repetitivos. Com esta nova coleção, ficamos com a impressão de estar a descobrir algo novo.

Principalmente com as saias de crepe georgette évasé perfeitamente cortadas; os vestidos maravilhosos cobertos de flores peroladas; e os casacos forrados com lantejoulas metálicas na cor champanhe, tão densamente bordados que poderiam ser confundidos com lã de cordeiro.

Apenas uma pessoa se vestiu de preto durante o desfile, o próprio Pierpaolo Piccioli, que apareceu no final, fazendo uma pequena vénia com um colete preto e uma máscara a condizer; tudo ao som do Massive Attack. E, por fim, 15 membros do atelier Valentino, todos mascarados e vestidos com casacos brancos, também apareceram, para dar um toque colegial.

Na próxima sexta-feira (29), a Valentino vai transmitir nas suas contas de redes sociais o filme de Robert del Naja, Making of the Haute Couture Collection, produzido e editado pela primeira vez por inteligência artificial.

O artista e músico britânico passou os últimos meses a gravar imagens dos costumes e tradições da alta costura. Imagens, essas, que foram transformadas e editadas por inteligência artificial – algoritmos programados pelo artista alemão Mario Klingemann.

“Através do filtro sintético da inteligência artificial, surge o aspecto emocional da Alta Costura, mas também a celebração e o aprimoramento da qualidade humana: um código que se regenera constantemente e permanece atemporal”, declarou a Valentino num comunicado.

Valentino Couture: Alta Costura na era da inteligência artificial

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