Virgil Abloh fala sobre a sua visão do novo luxo
Virgil Abloh dispensa apresentações. O estilista americano à frente da marca Off-White e das coleções masculinas da Louis Vuitton fala com segurança, transbordando de ideias que parecem estar sempre à frente do seu tempo. Ao seu lado, Alexandre Arnault, CEO da Rimowa e filho do proprietário do grupo LVMH. Unidos pelas suas colaborações, a sua nova visão do luxo, os millennials, e mesmo Kanye West, que os uniu em Paris há 10 anos, os dois participaram no Vogue Fashion Festival na sexta-feira (9) e, numa sala lotada no hotel parisiense Potock, falaram sobre a indústria da moda.
Off-White: do sucesso na internet à expansão no retalho
"Vejo a Off-White como o meu diário, uma conversa comigo mesmo”, disse Virgil Abloh a um público composto por jornalistas, profissionais da indústria e estudantes, entre os quais muitos fãs do diretor criativo mais aclamado do momento. Fundada em 2014, a Off-White teve de criar "do zero" a imagem e o logótipo pelos quais é reconhecida hoje. Quanto à maison francesa, o desafio é mudar os códigos pré-estabelecidos. "A minha relação com a Louis Vuitton é diferente. É um diálogo com o legado de uma empresa fundada em 1854. Mas, assim como na Off-White, o branding e a iconografia ainda são muito importantes." "O monograma é uma ferramenta de trabalho fascinante", admite Virgil Abloh.
Por outro lado, a marca que conta com 5,5 milhões de seguidores no Instagram é o laboratório de ideias de Virgil Abloh. “A Off-White é masculina, é feminina…É tanto um vestido de noiva como uma sweater", diz o designer, conhecido pela sua abordagem multidisciplinar e pelas suas criações prolíficas, declinadas em dezenas de colaborações mediáticas. Um sucesso sem precedentes para Virgil Abloh, cuja marca foi consagrada pelo site Lyst como a mais popular do ano. Isso não impede que alguns questionem o posicionamento de preços dos itens e se estes pertencem ou não ao luxo. "Fazem-me muitas vezes essa pergunta", sorri Virgil Abloh. “A Off-White produz em fábricas sustentáveis, e tem uma equipa de 40 pessoas bem remuneradas", diz, concluindo: "De certa forma, é o preço da criatividade.”
A 25 de outubro, a Off-White abriu as portas da sua loja no Dubai. E, embora a marca tenha sido impulsionada em grande parte pelas redes sociais e pelo boom digital, o canal físico continua a ser essencial para o seu fundador, que deu os seus primeiros passos profissionais no mundo da arquitetura. "A Off-White não é uma loja online", diz, lembrando que a marca tem atualmente cerca de vinte lojas e pretende chegar à 40 no próximo ano. Todos os pontos de venda da marca são diferentes, de acordo com a regra estabelecida pelo criador, que deseja agregar valor à experiência do cliente. "É preciso pensar nas peças de edição limitada que devem ser vendidas, mas também em distribuir todos os outros produtos que são a base da marca", diz Abloh, que menciona a Colette como um espaço físico de referência. Alexandre Arnault, por outro lado, prefere "o relacionamento 360º com o cliente da Apple Store".
Produto, luxo e colaborações
"Virgil já queria fazer uma colaboração com a Rimowa antes de esta ser comprada pela LVMH (em 2016)", disse o seu presidente entre gargalhadas. Arnault reconhece que a ideia das famosas malas transparentes partiram do criador da Off-White. Um estilo que, segundo Alexandre Arnault, contrasta com a atual tendência social, obcecada por dados e confidencialidade. “A transparência possibilita criar vínculos com as pessoas. Quando expomos um pouco mais do que o cliente está habituado a ver, criamos uma conexão pessoal com a coleção", afirma o designer, que enfatiza a necessidade de renovar a oferta para incentivar a compra.
“A industria do design pode ser uma indústria muito gananciosa", admite Virgil Abloh, enquanto Arnault explica o seu nicho de mercado tomando como exemplo os iPhones da Apple. "As pessoas não precisam de mais de três malas, então é preciso desenvolver ideias para elas voltarem, não porque precisam de uma mala, mas porque querem essa mala em particular." E conclui sobre a evolução da empresa com sede em Colónia, na Alemanha: "Quando comprámos a Louis Vuitton, nos anos 80, a empresa era do tamanho da Rimowa hoje. Temos potencial de crescimento e consigo ver-nos posicionados no nicho do 'luxo funcional’, como uma marca de luxo que é desejável e adaptada às necessidades do consumidor". Em relação às colaborações, o designer americano é muito claro: "No passado, eram consideradas projetos de marketing, mas para mim, trazem renovação na moda."
Virgil Abloh é, às vezes, alvo de críticas devido à sua falta de formação no setor, reduzindo o seu papel ao de diretor criativo de "nova geração". Mas, analisa o fenómeno com distanciamento. "Acho que o design de moda era diferente antes. Hoje, para um estilista, o mais importante é entender o ecossistema em que vivemos”, diz sobre o processo criativo, a evolução dos desfiles e as mudanças provocadas pelo boom digital. "O fator social e as redes são essenciais nessa mudança de paradigma. Os consumidores não estão apenas a obter um produto, estão a construir um relacionamento com ele e a criar a mensagem." Ao que Alexandre Arnault acrescenta: "Antes, as marcas ditavam o que queriam vender, mas hoje é impossível controlar uma mensagem que pode ser respondida, retweetada ou gostada.”
Segundo Virgil Abloh, esta mudança de contexto também implica uma evolução no conceito. "Temos que questionar os termos luxo, 'high fashion, 'low fashion' e streetwear. O significado da palavra "luxo" está ligado às gerações anteriores, enquanto hoje o que cria o vínculo é a relevância", explica. Um ponto de vista compartilhado por Alexandre Arnault, que garante não apreciar a relação automática entre preço e luxo. Segundo ele, o conceito de luxo deve estar ligado à originalidade do produto. Líder de uma nova geração que quer mudar as regras do jogo, Virgil Abloh conclui: "Como criador, quero oferecer aos consumidores produtos de que se possam orgulhar. Quero que as pessoas perguntem de onde vieram. O novo luxo é criar essa conexão emocional com o produto.”
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