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Helena OSORIO
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2 de jan. de 2023
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Vivienne Westwood: ícone punk da moda britânica deixou-nos aos 81 anos

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Traduzido por
Helena OSORIO
Publicado em
2 de jan. de 2023

A mulher que vestiu os Sex Pistols, Vivienne Westwood, e que morreu na quinta-feira (29 de dezembro), aos 81 anos de idade, era sinónimo de punk rock dos anos 70, uma rebeldia que se manteve como marca de uma estilista política sem meias palavras, que se tornou um dos maiores nomes da moda britânica e do mundo.


Vivienne Westwood - Juergen Teller


"Vivienne Westwood morreu hoje, pacificamente e rodeada pela sua família, em Clapham, no sul de Londres", anunciou a sua maison de moda num comunicado, acrescentando: "O mundo precisa de pessoas como Vivienne para mudar as coisas para melhor".

As alterações climáticas, a poluição e o seu apoio ao fundador do WikiLeaks, o ativista australiano Julian Paul Assange, todos objeto de T-shirts ou faixas de protesto usadas pelos seus modelos em passerelle e pela própria.

Vivienne Westwood vestiu-se de Margaret Thatcher, então primeira-ministra de Inglaterra, para uma capa de revista em 1989 e conduziu um carro alegórico branco perto da casa de um futuro líder britânico, David Cameron, para protestar contra a fratura hidráulica.

A ativista rebelde foi introduzida no establishment britânico em 1992 pela rainha Isabel II do Reino Unido, que lhe atribuiu a Ordem do Império Britânico. Mas, sempre pronta a chocar, Vivienne Westwood apareceu no palácio de Buckingham sem roupa interior – como provou aos fotógrafos ao rodar a sua saia de uma forma reveladora.

"A única razão pela qual estou na moda é para destruir a palavra conformidade", disse Vivienne Westwood na sua biografia publicada em 2014. "Nada é interessante para mim se não tiver esse elemento".

Instantaneamente reconhecível com o seu cabelo laranja ou branco, a estilista fez pela primeira vez um nome na moda punk em Londres nos anos 70, vestindo a anteriormente referida banda punk rock que definia o género. Com o empresário da banda Sex Pistols, Malcolm McLaren, Vivienne Westwood desafiou as tendências hippies na ordem do dia para vender roupa inspirada no rock'n'roll.

Os seus trajes rasgados adornados com correntes, bem como roupas de látex e fétiches, passaram a ser vendidos na sua loja na famosa King's Road de Londres, sob vários nomes: 'Let It Rock', 'Sex' e 'Seditionaries', entre outros.

Utilizaram impressões de suásticas, seios nus e, talvez a mais célebre: uma imagem da rainha com um alfinete de segurança nos lábios. Os seus artigos preferidos eram T-shirts sem mangas pretas, com fechos de correr, alfinetes de segurança ou ossos de frango branqueados.

"Não houve nenhum punk antes de mim e Malcolm", afirma Vivienne Westwood até na sua biografia. "E outra coisa que também se deve saber sobre o movimento punk: foi uma explosão absoluta".

"Buy Less"



Nascida Vivienne Isabel Swire, a 8 de abril de 1941, na cidade inglesa de Glossop em Midlands, Vivienne Westwood cresceu na era do racionamento durante e após a Segunda Guerra Mundial.

Uma mentalidade de reciclagem permeou o seu trabalho, e disse repetidamente aos fashionistas para "escolherem bem" e "comprarem menos". A partir do final dos anos 60, viveu num pequeno apartamento no sul de Londres durante cerca de 30 anos e ia de bicicleta para o trabalho.

Quando era adolescente, os seus pais, jardineiro e tecelã de algodão, mudaram-se com a família para o norte de Londres, onde Vivienne estudou joalharia e ourivesaria antes de voltar a trabalhar como professora.

Enquanto ensinava numa escola primária, conheceu o seu primeiro marido, Derek Westwood, com quem casou com um vestido quotidiano. O seu filho Ben nasceu em 1963, e o casal divorciou-se em 1966.

Como "mãe solteira", Vivienne Westwood vendia joias na Portobello Road, em Londres, quando conheceu Malcolm McLaren, um estudante de arte, que viria a tornar-se seu sócio, tanto no amor como nos negócios. Tiveram um filho, Joe Corre, cofundador da marca de lingerie Agent Provocateur em 1994.

Após o fim dos Sex Pistols, os dois parceiros encenaram o seu primeiro desfile de moda em 1981, apresentando um "novo visual romântico" de padrões ao estilo africano, calças de corsário e lenços de pescoço.

Vivienne Westwood, então nos seus 40 anos de idade, começou lentamente a forjar o próprio caminho na moda, antes de se separar de McLaren no início dos anos 80.

Muitas vezes voltando-se para a história, os seus designs influentes incluem espartilhos, fatos clássicos ao estilo Harris Tweed e vestidos de tafetá.

A sua linha "Mini-Crini" de 1985 introduziu a saia curta insuflável e uma silhueta mais ajustada. Os seus sapatos de plataforma exagerada chamaram a atenção do mundo em 1993, quando a modelo Naomi Campbell tropeçou na passerelle, calçando um destes pares.

"As minhas roupas têm uma história. Têm uma identidade. Têm carácter e finalidade", disse a designer. "É por isso que se tornam clássicos. Porque ainda contam uma história. Ainda falam".

A marca Westwood floresceu nos anos 90, com fashionistas a afluir aos seus desfiles em Paris e lojas a abrir em todo o mundo para vender as suas linhas, acessórios e fragrâncias.

Conheceu o seu segundo marido, Andreas Kronthaler, enquanto ensinava moda em Viena. Casaram-se em 1993 e este tornou-se o seu parceiro criativo.

Vivienne Westwood tem utilizado o seu perfil público para defender questões como o desarmamento nuclear e para protestar contra as leis antiterrorismo e as políticas orçamentais públicas que atingem os pobres. Hasteou uma grande bandeira da "Climate Revolution" na cerimónia de encerramento das Paraolímpicas de Londres de 2012, e transformou frequentemente os seus modelos em eco guerreiros na passerelle.

"Sempre tive uma agenda política", disse a eterna rebelde à revista de moda L'Officiel em 2018: "Usei a moda para desafiar o status quo".
 

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