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Estela Ataíde
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11 de fev. de 2020
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Zhang Tao (indústria têxtil chinesa): "Demorará pelo menos seis meses antes de se recuperar uma certa normalidade"

Traduzido por
Estela Ataíde
Publicado em
11 de fev. de 2020

Uma atmosfera estranha fez-se sentir a 10 de fevereiro, na abertura dos salões Texworld e Apparel Sourcing. Stands chineses semi-desertos, inúmeras máscaras de proteção, distribuição de gel hidro-alcoólico… O coronavírus está na mente e nas conversas dos profissionais. Por coincidência, foi nesse mesmo dia que Pequim iniciou o difícil repatriamento de chineses das suas áreas de férias, muitos dos quais permaneceram presos nos locais escolhidos para a pausa do Ano Novo. O prelúdio de uma lenta recuperação da atividade das empresas após o mundo descobrir imagens surreais de centros urbanos chineses desertos. Foi neste contexto que Zhang Tao, secretário-geral do CCPIT-Tex, o conselho chinês da indústria têxtil, vinculado ao ministério do Comércio, chegou a Paris. Excecionalmente, Zhang Tao recusou educadamente qualquer aperto de mão e, depois de perguntar sobre a perceção do vírus chinês pelos europeus, concordou em discutir este delicado contexto com a FashionNetwork.com.


Zhang Tao - MG/FNW


FashionNetwork.com: Qual é atualmente a situação da indústria têxtil chinesa?
 
Zhang Tao: Como sabe, desde que o coronavírus foi descoberto, as atividades industriais e comerciais da têxtil foram fortemente afetadas. Vivemos uma situação única, embora tenhamos a experiência do SARS [NR: em 2002-2003], e o governo central apelou à nossa indústria, como a outras, para não comprometer a luta contra o vírus. Isso implica suspender as atividades profissionais. A indústria têxtil tem um papel ativo na luta contra o vírus, através das empresas mobilizadas para produzir as famosas máscaras de proteção em tecido. É claro que esta crise continuará a ter impacto nas atividades a curto prazo, mas estou confiante de que haverá um regresso à normalidade a longo prazo. A estabilidade da cadeia de aprovisionamento internacional do têxtil é importante para as nossas empresas, mas também para os consumidores internacionais.

FNW: Desde segunda-feira, 10 de fevereiro, Pequim está a organizar o regresso dos chineses às suas províncias. As empresas deverão, teoricamente, reabrir. É esse efetivamente o caso?
 
ZT: Acho que agora toda a gente já ouviu falar de Hubei e Zhejiang, as duas províncias de onde o vírus veio. Num esforço para impedir a circulação do vírus, muitas empresas e plataformas de compras suspenderam a sua atividade, primeiro localmente e depois no resto do país. Acho que demorará até que tudo volte ao normal. Todos na China estão à espera que passemos pelo famoso pico da epidemia, que será o prelúdio de uma redução nas medidas de proteção. Mas, acho que, no final de contas, a situação neste primeiro trimestre poderia ter sido muito pior.

FNW: A situação atual poderá comprometer o futuro de certas empresas têxteis?
 
ZT: Claro. Penso em particular nas pequenas e médias empresas. Estas enfrentam dois desafios muito difíceis. Primeiro, não conseguem trabalhar sem liquidez. Um luxo que já não têm forçosamente, após a paragem das últimas semanas. Então, precisam de gerir o regresso dos seus funcionários. Tendo em consideração as precauções sanitárias, mas também encontrando soluções para os cargos normalmente ocupados por funcionários que ainda estão bloqueados noutras partes do país. Portanto, a situação apresenta efetivamente grandes riscos para estas empresas.
 
FNW: Com o setor parado, deveremos esperar problemas de stocks de materiais?
 
ZT: Acho que os maiores players poderão contar com os seus stocks. A cadeia de aprovisionamento baseia-se efetivamente nas empresas que estão em cima, o que poderá ser um problema quando tudo está parado. Obviamente, os players geralmente têm stock, mas esta continua a ser uma solução para um período de tempo limitado.

FNW: As empresas chinesas possuem muitas empresas têxteis na região da Ásia-Pacífico. Uma boa solução temporária durante este período?
 
ZT: Acho que essas empresas e filiais representarão uma boa alternativa para os seus clientes internacionais. A China tem fabricantes na Birmânia, Vietname, Sri Lanka e outros. Mas, a longo prazo, voltaremos ao mesmo problema. Porque, para trabalhar, estas empresas são, no seu aprovisionamento, muito dependentes de fiadores e tecelões chineses. É preciso lembrar que a China, ao aumentar os seus salários, criou a atual tendência de diversificação de aprovisionamento. Portanto, não estou preocupado com quem toma decisões, porque estes sabem muito bem como se adaptar e encontrar soluções.

FNW: Com a retoma da produção chinesa, deveremos esperar um impacto nos custos?
 
ZT: Sim, é provável que haja um impacto, porque o regresso à normalidade terá um custo. E, uma vez mais, as coisas não voltarão ao normal em apenas alguns meses. Na minha opinião, demorará pelo menos seis meses antes de se recuperar uma certa normalidade na atividade. Mas, uma vez mais, esta é uma situação sem precedentes, e teremos que esperar um pouco para conhecer todas as consequências.

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